segunda-feira, 12 de junho de 2017

CASOS 1 - Detalhes de um atendimento

A partir de hoje inicio uma nova série aqui no Blog chamada CASOS.
O que é CASOS? Casos tratará, como o nome indica, de relatos de situações encontradas no dia-a-dia dos meus atendimentos em Pronto Socorro. Então, sem mais delongas, vamos ao meu primeiro caso.

Detalhes de um atendimento

No momento estou trabalhando em dois locais fixos, um deles é um PSF e sou plantonista em um hospital. Estava eu no PSF num dia típico, tranquilo, comum... atendo de tudo ali, desde de simples unha encravada até casos graves de AVC em fase aguda. Lugar carente é assim, as pessoas não sabem quais serviços recorrer quando precisam de atendimento. Então, enquanto eu estava ali aguardando o próximo paciente sentado na cadeira no consultório, entra um senhor.

Era um senhor de uns 60 anos, sorridente e aparentando ser bastante saudável.  Se senta e começa a relatar suas queixas. Dizia ele que estava ali porque sentia dores nas costas e que lhe deu uma fisgada quando descia de um carro. Bom, nada diferente da maioria das queixas que nós acostumamos a ouvir diariamente nos atendimentos; acontece que esse senhor hígido ali a minha frente era uma pessoa bem reservada, da roça, boa gente e não gostava muito de se queixar e só estava ali porque precisava trabalhar e tal dor não permitia. “Eu só quero um remédio”, dizia. Enquanto ele falava eu já pensava na prescrição... “ciclobenzaprina via oral a cada oito horas... diclofenaco intramuscular...” até que ele me fala que sentia um incômodo no peito. Eu já iniciava a receita sem dar muita atenção a sua segunda queixa, estava com fome e tem horas que simplesmente nós médicos só queremos nos livrar do paciente, quando então resolvi levantar a cabeça novamente e encará-lo. “Como é esse incômodo? ”, perguntei sem muita expectativa e ele me respondeu esfregando a palma da mão no peito dizendo que sentia, ali, tal incômodo e que as vezes aumentava e dava até falta de ar. Aquilo claramente não significava nada para ele, ele não tinha noção que tal sintoma era bem mais importante do que a dor muscular que referia. Reiniciei a anamnese; dor de cerca de cinco horas de evolução irradiando para membros superiores. Como qualquer estudante de oitavo semestre pensaria, suspeitei de infarto. O exame físico apenas aumentou ainda mais as suspeitas.

O IAM é a primeira causa de morte no pais, segundo o DATASUS (BRASIL, 2014). São mais de 100 mil mortes anuais.

Onde eu estava não tinha nada, somente AAS 100 e oxigênio e foi o que ofereci e já o encaminhei com urgência ao hospital com hipótese diagnóstica de IAM e, enquanto almoçava, a esposa dele me procurou perguntando sobre seu marido, ela disse que estava preocupada pois morava sozinha com ele numa fazendinha um pouco distante dali e queria saber se ele voltava para casa ainda hoje. Disse apenas que não poderia prever, mas que em breve eles avisariam a ela o que ele tinha.

Enquanto voltava para casa, já de tarde, passei pelo motorista da ambulância que havia levado o paciente; ele me contou que era mesmo um infarto e que iam removê-lo a uma UTI.

Fiquei olhando para o horizonte sentindo orgulho de mim mesmo pelo feito. Ao mesmo tempo percebi a importância que existe em ouvir seus pacientes. Entendi que somos humanos e que deixamos escapar detalhes que podem valer a vida e uma pessoa. Pensei que, se na hora que ele disse que sentia “um incômodo no peito” eu estivesse, sei lá, pensando no que ia comer no almoço ou qualquer outra merda que nos vem à cabeça quando estamos cansados e só queremos que a consulta termine logo, esse paciente teria sido privado de um atendimento mais adequado e, ali, sentado no carro indo apara casa, eu não conseguia deixar de pensar nisso.

A medicina é, sem dúvida, a profissão mais foda do mundo; é demais ser médico, mas, ao mesmo tempo é a profissão que, aliada a ciência, mais exige, para que funcione corretamente e eficazmente, interação humana. Um detalhe, um piscar de olhos, uma distração de dois segundos, e perdemos uma vida. As vezes sou cético, descrente, metódico e cientista demais, mas se tem uma coisa que sempre peço para Deus ou a qualquer força que possa existir (ou não) é que me ilumine nesses momentos e que não me deixe escapar uma vida pelas mãos. 


domingo, 4 de junho de 2017

Meu primeiro plantão como médico de verdade

Essa postagem faz parte de minha história fazendo medicina na Bolívia, quer ler tudo? Clique aqui

Faz tempo que não posto nada por aqui, a vida anda meio corrida. Mas vou fazer um breve resumo de tudo.

Depois que cheguei da Bolis, fui providenciar meus documentos. Era tradução, regularização de situação eleitoral e muitas outras chatices para poder mandar o diploma a Brasília a ser revalidado.

Depois de tudo pronto e com a ajuda de uma pessoa especial que pesquisou um bom despachante, mandei o diploma a o profissional que levou meu diploma até a UnB em posse de uma procuração particular e deu entrada ao processo de revalidação. Tudo bem simples. Cerca de 12 dias depois o diploma estava em minhas mãos e fui correndo ao CRM me inscrever. Foi um momento ímpar, rs.
Achei que o CREMESP poderia me olhar torto por causa do diploma de fora, mas foi tudo muito tranquilo e respeitoso. Depois de cerca de 15 dias, me liberaram o número. A mesma pessoa especial foi quem viu, no site do CREMESP, numa quinta-feira à tarde, que o número havia sido liberado. Foi uma comemoração.

Comemorei muito (eu sou o cão sonolento, rs)

No mesmo momento já fui fazer o carimbo e mandar currículos. Me cadastrei em vários sites e empresas de colocação em mercado, mas foi tudo perda de tempo – e dinheiro. Por lá não consegui nada e então parti para os grupos de WhatsApp. Então começou a chover plantões.

Meu primeiro plantão

Foi no PA Maria Dirce, em Guarulhos. Plantão noturno de clínica médica. Estávamos em 3 médicos, um deles boliviano. Dividimos os horários e dormi 7 horas aquela noite. Plantão calmo e sem intercorrências. Me senti... kkk. Sério, foi muito bom. Diferente das experiências fora do Brasil, o médico aqui ainda é respeitado, as pessoas te tratam bem e normalmente você consegue, se for uma pessoa tranquila, lidar com tudo até certo ponto, bem. Claro que aparecem muitos problemas, mas não senti isso como sendo uma constante. Até agora.

Meu segundo plantão foi em pediatria. A administradora de um grupo postou uma vaga de plantão a noite em setor de pediatria, em emergência de um hospital (Hospital Saboya) e euzinho resolvi pegar. Ela disse que não precisava ser pediatra, então eu resolvi ir. Depois que fui olhar melhor que se tratava de um hospital e não de um PA ou AMA. Cheguei ao local e fui procurar a colega pediatra (de verdade) para dar o tal plantão com ela. Ai ela me explicou que la era hospital referência para vários PSs da região e que só recebemos casos graves para internação em UTI ou clínica pediátrica e que era “portas fechadas”. Eu estava com medo. Fui com ela ao conforto. Grande, com TV, quartos masculinos e femininos, café a vontade e cheio de médicos especialistas de várias áreas, desde eu (que não era nada ali) até neurocirurgião. Eu estava em meio a especialistas e, para se ter ideia, os residentes (que sabiam mais que eu) nem ali ficavam, era só especialista mesmo. Uma das primeiras coisas que fiz foi falar a pediatra que euzinho não era pediatra (e minha vontade era continuar dizendo que estava com medo, assustado, taquicardíaco, que não devia estar ali e que queria minha mãe). Ela perguntou se eu tinha experiência, pelo menos, e eu disse, obviamente, que “sim, que já havia feito estágio e blablabla” (mentira) e ela engoliu. Na verdade, ela era gente boa e, para minha sorte, não teve nada. Atendi a apenas uma criança mandada de um Ama com crise convulsiva (já era um pós comicial) e dei feno por via oral e mandei pra casa (ele já era epilético). Só isso.

Eu não posso fazer isso, não vou ficar nesse plantão... Ah, foda-se, vou sim...
Dividimos o horário, ela foi dormir primeiro da meia noite as três e meia e eu até as sete. Enquanto ela dormia, fiquei vendo TV deitado num sofá e orando para que não ligassem pedindo vaga. Ela me disse para não aceitar nada, pois a UTI estava com KPC (sempre amei as klebi). O telefone tocou e uma situação podre aconteceu, os pediatras de verdade dos PS me pediam vaga e eu negava. Coitados, mal sabiam eles que eu estava ali de paraquedas.

Dali fui ao Giglio, em Osasco, cobrir emergência porta fechada. Atendi a apenas um paciente. Aquela vaga também era voltada a pessoal com muita experiência. Tive sorte de ter aparecido apenas uma paciente e nem era tão grave. Dei conta.

Fui pra casa aliviado e pensando comigo que devia ter mais cuidado com os plantões que pegava. Mas o mais interessante foi a vontade que a administradora do grupo teve de eu ficar “fixo” no Saboya; será que gostaram de muá

Depois de cerca de 45 dias, fui até a solenidade de entrega das "carteirinhas". Ali reforçamos o juramento hipocrático, ouvimos aos médicos representantes da AMB, da Academia Médica de SP (um médico de 83 anos), do SIMESP e outros representantes. Eu achei que seria entediante e nem queria ir, mas no final, valeu a pena ter ido. Até emocionado eu fiquei, rs.

Missão. Passar 6 anos estudando para pegas isso. (aquele pensamento simplista que resume tudo)

Depois volto para contar mais sobre minhas experiências nos plantões da vida. Já rodei Sampa inteiro. Devo falar de salários e calotes também,


quarta-feira, 10 de maio de 2017

Brasileiros estudantes de medicina na Bolívia X bolivianos médicos no Brasil

Nos últimos dias venho notando uma série de problemas relacionados a convivência dos brasileiros que vivem em Santa Cruz de la Sierra fazendo medicina. A xenofobia por ali sempre existiu, afinal, o povo boliviano, por ser um povo pouco mesclado, quase fechado, tolera pouco as características de outros povos, diferente dos brasileiros, que é um povo aberto, misturado e que está habituado com povos de todos os cantos do mundo. Mas essa xenofobia apareceu de uma maneira mais intensa nos últimos dias, depois da tentativa de suicídio de um brasileiro que foi transmitido em vários canais de televisão e pela internet. A ideia é que, por este individuo ter cometido tal ato e (sic) sob efeito de drogas, todos os outros brasileiros também são drogadictos. E pior, vi comentários aberrantes transformando os brasileiros em marginais e, numa xenofobia extrema, como se fôssemos um povo inferior ao povo boliviano.

Me formei recentemente, trabalho como médico em São Paulo e conheço bem ambas as realidades. Convivo com médicos  bolivianos aqui no Brasil e posso dizer com propriedade: eles são respeitados. Não são só respeitados como também ganham muito bem, vivem bem e não sofrem nem um tipo de xenofobia. As vezes uma piada pelo sotaque ou por não dominar bem nosso idioma, mas xenofobia eu nunca vi; aliás, já vi paciente dizer que prefere ser atendido pelo estrangeiro devido a maneira mais educada que alguns deles agem. O brasileiro aqui nem ao menos sabe de onde saiu esse médico com aparência indígena, com sotaque de fora, com fala mais tímida e nem quer saber se é do Paraguai, do Peru, da Bolívia ou de onde quer que seja, simplesmente porque ele quer ser bem atendido.

Outro dia de plantão com dois bolivianos, um deles gente boa e educado, até trocar plantões a gente trocou, o outro, um senhor mal educado que me desrespeitou e que imediatamente o coloquei no lugar. Mas ele não fez isso porque ele é boliviano, ele fez isso porque ele é babaca. E babaca não tem nacionalidade ou raça, babaca é apenas babaca. Então, bolivianos ou brasileiros, respeitem uns aos outros independente de sua nacionalidade. Obviamente tem muito brasileiro babaca na Bolívia, mas ELE é babaca, ELE. O fato é que, hoje, é o estudante brasileiro que está aí sofrendo xenofobia, mas amanhã é o boliviano que está aqui tentando ganhar a vida como médico. E ganhando. E ganhando muito. E sendo respeitado, sendo muito respeitado.

Devo dizer que não são todos os bolivianos xenófobos, ouso dizer que é a minoria, mas essa minoria faz muito barulho causando estresse e indignação a comunidade brasileira em Santa Cruz. Até mesmo um colega médico boliviano ficou puto com os comentários de seus conterrâneos referente a tal situação.

É isso, mais respeito com os brasileiros. É o que tenho a dizer hoje.

(postado do celular e sem formatação).

domingo, 9 de abril de 2017

Como funciona a revalidação de diploma de médico

Agora conto como foi o trâmite para revalidar meu diploma.

Quem está acompanhando o blog, sabe que terminei recentemente o curso de medicina, resolvi todas as documentações na Bolívia e, finalmente, fiz o Revalida.



Meu diploma original
Depois que cheguei no Brasil, com diploma em mãos, fui atrás de revalidá-lo. Já tinha feito as provas, aprovado e, agora, era apenas burocracia. A minha IES (Instituição de Ensino Superior) para revalidar o diploma era a UnB (Universidade de Brasília), mas moro em São Paulo, desta forma, contatei um despachante para realizar a entrega do meu diploma bolivicong na UnB e retirá-lo devidamente revalidado. Enviei os documentos com uma procuração particular por Sedex e em cerca de 15 dias, meu diploma estava revalidado.

É tudo muito simples, basta você entregar pessoalmente o diploma original com selo do ministério da educação e de relações exteriores e consulado do país de origem mais todos os documentos pessoais; a procuração é para caso você não possa realizar o trâmite pessoalmente. Demora esses 15 dias (em média) devido fato da IES enviar e-mail ao consulado brasileiro e a universidade onde você se formou para confirmar que seu diploma é original.
Diploma devidamente revalidado.
Bom, depois de duas semanas o meu diploma estava em mãos e bastava eu levá-lo no CRM. Nos próximos posts eu conto como foi minha inscrição no CREMESP.


Por ora, é isso. 

quarta-feira, 29 de março de 2017

Meus últimos dias na Bolívia

Antes de ir embora de uma vez por todas das terras de Evo Morales, eu ficava imaginando como seria essa minha “despedida” definitiva ao voltar ao Brasil “para sempre”.

Indo fazer medicina na Bolívia (Bien venido a Udabol)

 Para voltar para casa são 6 anos de medicina, 1 ano de burocracia incluindo
Província, Grado, TPN, Resolução e etc etc.. Mas valerá a pena.
E quando estiver saindo, o unicórnio Uni (coincidência com o nome da minha faculdade) vai
te trapalhar. O nome da Ecológica é Une, também, rs

Para que eu fosse embora de uma maneira definitiva, não podia deixar absolutamente nada para trás e a única coisa que eu realmente necessitava era o meu diploma. Sim, somente o diploma. Não precisava de plano analítico, de ementas, de TPN – Título de Provisão Nacional (CRM da Bolívia) ou qualquer outro documento à parte, pois, meu caso era Revalida e, lá, só basta o diploma mesmo. Para minha sorte, a universidade onde me formei (devo fazer um post somente com um balanço geral sobre minha experiência na UNE) eu não precisava tirar o TPN para sacar o diploma, ou seja, somente com a resolução da prefeitura (Sedes, antro de corrupção) eu já podia recolher o diploma. E recolhi.

Me lembro claramente deste dia. Foi quase uma semana antes do carnaval. Estava muito ansioso para pegar meu tão sonhado diploma que já estava prontinho somente me esperando. Fui cedo à faculdade e, depois de esperar algum tempo, saí com ele na mão. Verdinho...

Pensa que acabou?

Saindo com diploma na mão, fui enviá-lo a um tramitador (uma espécie de despachante) em La Paz (Rene, bem conhecido e barato, recomendo). No outro dia o Rene carimbou no MEC e MRE da Bolívia e dois dias depois o documento estava em minhas mãos já devidamente legalizado.

Já acabou, Jéssica?!

E agora, acabou?

Nada. Depois disso, deixei o diploma verdinho no consulado brasileiro em Santa Cruzes onde foi carimbado. Deixei de manhã e retirei a tarde. Tive que esperar o carnaval acabar para poder realizar esse trâmite.

O Revalida exige que o diploma estrangeiro do médico seja devidamente legalizado no consulado brasileiro no país de origem para “confirmar” a autenticidade do documento. Desta forma, o consulado envia o e-mail à universidade que responde em ofício digitalizado confirmando ou não a fidedignidade do diploma.

Me lembro que foi a última vez que estive na Ecológica. Foi estranho olhar para trás e ver aquelas salas de aula, aqueles alunos calouros por ali, aqueles campos verdes que tanto estava familiarizado e saber que, possivelmente, não os veriam mais. Naquele prédio eu vivi todo tipo de emoção como raiva, indignação, algumas alegrias, aprendizado (no final, cito alguns professores bons) e muitas e muitas outras experiências.

Dei adeus a alguns funcionários, agradeci a outros e me fui. Dei tchau a universidade onde havia estudado por seis anos, onde havia conhecido gente de todos os tipos; brasileiros bacanas, do bem, do mal, falso, pobre, rico e todo tipo de gente, além de colegas bolivianos que, na minha experiência, eram bem bacanas.

Ao meio dia em ponto fui ao consulado buscar o meu diploma selado. Era difícil crer que faria meu último trâmite burocrático na Bolis. O diploma estava pronto. Acabou.

De lá fui direto ao terminal de ônibus, o bimodal, para comprar minha passagem a Puerto Quijarro, fronteira com o Brasil, ainda para aquele mesmo dia.

Na quinta-feira, dia 2 de março de 17, eu deixei a Bolívia depois de terminar o curso de medicina.

Enquanto ia caminho do terminal bimodal, via alguns lugares tão familiares: passei perto da maternidade onde fiz GO e me via naqueles plantões de 30 horas vestido de verde; passei de frente ao hospital de Niños onde fiz minha primeira rotação, pediatria, e me vi nas madrugadas andando naqueles corredores desnivelados, feito um zumbi de sono e, numa mistura de orgulho de mim mesmo e de nostalgia, dei adeus. Passei a um quarteirão da praça 24 de Septiembre e pude ver suas luzes que a iluminam, lembrei do Bar Irlandés e do peixe delicioso que servem lá e das tantas fotos que tirei ali, em especial quando havia chegado na cidade, me vi nas das doçarias e sorveterias que tem ao redor da praça e de tantos outros detalhes que, agora, enquanto escrevo, nem consigo mais me lembrar e, até para que essas lembranças que ainda restam não se percam, estou aqui registrando.


Valeu, Bolívia. Valeu Santa Cruz de la Sierra. Cheguei aí um moleque (mesmo depois dos 30) e saí muito mais homem. Apesar de todos os desencalços aí vividos, você, Santa Cruz, me deu essa oportunidade, a oportunidade de me formar médico, algo que, sem dúvida alguma, eu nasci para ser.

Já na saída da cidade vi dentro do ônibus as luzes da Ecológica, a ruazinha de terra onde morei, a entrada da Ubanización Cotoca e até uma licoreria me trouxe lembranças.

Agora, um agradecimento especial a alguns professores que me ajudaram (e muito) na minha formação. Devo esquecer dos nomes de alguns, mas isso não diminui suas importâncias.

Dr. Victor Hugo Peña, foi meu professor de gastrenterologia. Ama o que faz. Formado na UFRJ com especialização no Rio de Janeiro, Bélgica e Espanha, é médico no Hospital Japonés onde também exerce função acadêmica.
Dr. Milton, foi meu professor de Anatomia 1 e 2, é docente titular de anatomia em duas universidades de Santa Cruz. Exigente, reprovador, mas eu gosto dele.
Dr. Guido, professor de fisiologia 1. Foi um dos primeiros professores a quem aprendi a admirar.
Dr. Leopoldo Lazcano, foi meu professor de fisiologia 2 e plantonista chefe de GO na maternidade Percy Boland, onde fiz internato. Um dos médicos mais admirados dos hospitais escolas da cidade.
Dr. Quiroga, Anestesiologista, foi meu professor de farmacologia 1 e 2. Aprendi muito sobre os anestésicos com ele.
Dra. Yoselin Ibañes, me lecionou Imunologia e Genética, saia 20 horas de suas aulas, podre de cansado, mas valeu a pena.
Dr. Camacho, cirurgião torácico, professor de traumatologia. Achei sua aula sobre cirurgia de emergência de contenção de danos inesquecível.
Um Pneumologista, que agora não me lembro o nome (sou péssimo nisso) que é bem idoso, mas que sempre dava suas aulas teóricas ou práticas. A galera não respeitava muito ele e, quando ele se virava de costas, fugia da aula. Obrigado, doutor, por suas aulas.

Obrigado a todos. Sei que estou sendo injusto aqui por não me lembrar de todos, mas de alguma forma, vocês colaboraram muito de perto para minha formação.




domingo, 19 de fevereiro de 2017

Estudante de medicina da Bolívia Raiz e Nutela



Raiz

  • Mora ele e mais 8 pessoas no AP, ou só, num quarto sujo
  • Come pollo Chen
  • Dorme num colchão no chão e o único móvel é uma cadeira de macarrão.
  • Vivia com 800 reais no mês
  • Assiste aula de bioestatística e compra o caderno exclusivo pra isso
  • Vende trufa ou coxinha
  • Só anda de micro e paga um bol
  • Toma chicha, mocochinche e suco de laranja da rua
  • Faz compras na Abasto ou Mutualista
  • Não sabe o nome dos professores
  • Assiste Medcel extensivo
  • Tem pesadelos com a Udabol
  • Briga com colega de quarto por causa da louça e depois se acertam
  • Fala espanhol como um camba
  • Vai de férias ao Brasil, no Maranhão, de ônibus
  • Tem amigos bolivianos
  • Usa esteto de medir PA
  • Faz internato no San Juan ou no Torno
  • Passa no Revalida e vai dar plantão num açougue

Nutella

  • Mora num AP mobiliado
  • Só come pollo no Chriss e KFC
  • Dorme numa cama de cinco plazas e meia sozinho
  • Vive com 5 mil por mês a ainda não dá
  • Falta na aula de bioestatística pra beber ou ver medcurso
  • Tem nojo de mocochinche
  • Faz compras no Icnorte
  • Marca aula só com professor comprável
  • Assiste medcurso intensivo (só os vídeos com menos de 5 min)
  • Acha a Udabol linda
  • Chama o colega de feio e ele diz "feio é você"e começam a chorar, ligando pra mãe querendo desistir do curso.
  • Fala “coración”
  • Trouxe a família do Brasil porque tem medo da solidão
  • Usa littmann cardiologic 3.45 versao 262 alétrico
  • Faz internato numa clínica particular ou no Brasil uma vez por semana
  • Entra no Mais Médicos sem CRM






quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Revalida X Prova do CREMESP 2016


Recentemente saiu o resultado acerca das notas dos formados em medicina no estado de São Paulo, a prova do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). As notas, em si, não são divulgadas, mas, sim a porcentagem de aprovados. A divulgação foi feita na maioria dos veículos de comunicação online do Brasil. Também recentemente foi realizado o Exame Nacional de Revalidação de Diploma de Médicos Expedidos no Exterior (Revalida), entretanto, o INEP ainda não divulgou a porcentagem final dos aprovados, divulgando apenas o da primeira fase, o que já me é suficiente para esse editorial.

Como funciona a prova do CREMESP?

É uma prova que eles aplicam aos formandos de medicina que estudam no estado de São Paulo. Essa prova não é obrigatória, porém, caso o formando não faça, não pode se inscrever no CREMESP. Ok, todos eles, de certa forma, são obrigados a fazer, porém, não são obrigados a passar. Na verdade, nem são obrigados a responde-la, basta assinar o nome e entregar, caso queira. A nota de corte é de 60%.

E o Revalida?

É pré-requisito para exercer a medicina a nível nacional. Sem realizar essa prova, o médico formado fora do Brasil não pode exercer a medicina. E como sabemos, não basta realizar na prova, é preciso passar. A nota de corte é de 51/52% na primeira fase e 56% na segunda.

Vamos aos números.

Em 2016, a prova do CREMESP reprovou 52% de seus candidatos. É um número bastante alto, se considerarmos que quase mil médicos exercerão a medicina regularmente no Brasil sem nenhum problema, mesmo sem passar no exame. Na primeira fase do Revalida (prova Objetiva e Discursiva), o índice de reprovados foi próximo a 65% e, devo dizer, foi baixo, em comparação com edições anteriores. Acredito que com a prova de Habilidades Clínicas, o total de reprovados alcance os 80%. Mas nesse artigo vou me reservar a falar da prova objetiva, já que o CREMESP não dá prova prática.

Mas o que esses números têm a ver?

Nos últimos dias, acompanhando as páginas de rede social da Bolívia, venho notando que os estudantes de medicina deste país vêm fazendo uma série de comparações entre os formados no Brasil e fora dele. Em parte, bastante compreensível que façamos essas comparações, pois somos obrigados a fazer o Revalida (o que acho bastante junto) e, no Brasil, não precisam fazer prova.


Mas será que essa comparação é justa? Vamos a alguns fatos:

A prova do CREMESP não reprova. O cara que não fizer, poderá se inscrever normalmente no CRM de qualquer parte do Brasil, exceto SP. Se fizer, poderá se inscrever em qualquer parte do Brasil, inclusive SP. Com isso, não há motivo algum que um candidato vá se empenhar em passar numa prova que não lhe servirá de nada. Não importa se tirar 100 ou 0, sua vida seguirá a mesma. Desta forma, muitos dos formandos em medicina de São Paulo não vão dar o melhor de si para sacar uma boa nota, simplesmente porque não necessitam dela. Da mesma forma, esses formandos não vão se preparam para esta prova como alguém que se prepara para uma prova séria, na verdade, existem aqueles que vão fazer a prova revoltados pela “obrigatoriedade” e apenas picham o gabarito; não estudam especificamente para ela, não vão dormir mais cedo, não têm um nível de concentração adequado e, na menor dúvida diante de uma questão, marcarão qualquer coisa. Por outro lado, os estudantes de fora do Brasil, ao menos os mais sérios, passam boa parte do tempo se preparando para o Revalida e, na maioria dos casos, a considera como a prova de sua vida. Esses argumentos por si só já são suficientes para não cometermos o erro de comparar um índice de reprovação com outro. São situações bem diferentes.


Claro que não estou defendendo as universidades paulistas ou diminuindo as de fora, só quero deixar claro que são situações distintas. Entretanto, no dia em que tiver uma prova obrigatória onde o formado em medicina do Brasil dependerá da aprovação para o exercício da profissão e tiver um índice tão alto de reprovados, as comparações poderão ser válidas.

O fato é que nós, formados fora, precisamos fazer o Revalida e eles não. Temos de estudar mais, mostrar que somos bons, superar as expectativas e parar de nos preocuparmos com os brasileiros que se formam no Brasil, afinal, eles também têm e tiveram as inúmeras dificuldades deles, mesmo que sejam diferentes da nossa. Sabemos, inclusive, que não é só na Bolívia, Paraguai ou Argentina onde as universidades particulares são mesmo usadas para arrecadar grana, no Brasil também é. Sabemos disso. Mas o pior que posso ver, é ver meus companheiros de Bolívia choramingando e se colocando na posição de vítima por ter de realizar uma prova e eles não. Parece o irmão mais novo que fica birrando com o mais velho porque ele já pode sair à noite.

A dificuldade tem de nos fazer mais forte na medida que a superarmos. Entenderam? Mais fortes!






quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Revalida 2016 (Season Finale) - Resultado

Para melhor experiência com o blog, leia de um computador




Olhei mil vezes para ver se era verdade. Parecia até aquelas caricaturas onde a pessoa fica esfregando os olhos para ter certeza que aquilo era real. Eu simplesmente não podia acreditar. Meu Deus, será que isso está acontecendo comigo?!

Já cheguei até aqui.

Tanta coisa já passou. Tantos dias, tantas noites acordado. Anatomia, fisiopatologia, estágios, internato, província... meses, anos e finalmente terminei a faculdade e, agora que, recentemente fiz a última etapa do Revalida do INEP, o resultado chegou

Uma prova prática que, com certeza, vai reprovar muita gente.

Ontem saiu a nota.

Tudo parece tão simples. O tempo que passou, os meses, os anos e, “fim”. Mas os resultados são apenas aquilo que as pessoas conseguem enxergar. É difícil ver além disso e é uma tarefa praticamente impossível, desse que agora escreve, conseguir expressar o que tudo isso significa.

De anteontem para ontem eu mal dormi e olha que tomei um remédio para ajudar. Eu sabia que ontem, as nove horas da manhã, o resultado sairia. O resultado da prova que me daria ou não o direito de ser médico no Brasil.

As nove da manhã eu entrei na internet para checar a nota. Nada. Nove e meia e nada até que, quase as dez horas, o resultado saiu e eu fui descendo a página da internet que demorou um ano a carregar.

Tremedeira, ansiedade, mais tremedeira, taquicardia, arritmia, taquiarritmia até que a barrinha do site chega ao final. Olhei a nota um milhão de vezes para ver se estava mesmo certo. Eu não conseguia acreditar.

Um filme passou na cabeça (isso sempre acontece comigo) e me vi na última noite antes de ir embora para Bolívia, por seis anos, em Santo André, SP, numa noite de sexta (se não me engano), sozinho na rua Oliveira Lima enquanto ouvia bem de longe uma música do Codplay (Viva la Vida) tocada ao vivo por um músico não muito bom, mas que naquele momento me soava perfeito. E daquela rua eu cheguei até as nove e quarenta e cinco da manhã do dia vinte e dois de dezembro de dois mil e dezesseis em apenas alguns segundos. Seis anos. Resultado.

E no meio de tudo isso?

Já cheguei até aqui.

Estou na Bahia, vim ver minha mãe. Vim ver, mesmo sem a certeza de ter sido aprovado nessa última etapa, a possibilidade de, aqui, trabalhar. Quero interior, quero paz e quero estar perto dela. E, caso passasse, a primeira pessoa a quem queria dar a notícia era à minha coroa. Ela, que sempre acreditou em mim, que depositou todas as suas fichas no meu “projeto”, que esteve do meu lado, mesmo estando longe fisicamente, nos momentos mais difíceis, quando todos desconfiavam de mim que havia terminado outro curso superior e, agora, queria inventar de ir estudar fora, queria se “aventurar” já com 31 anos, ao invés de ficar em seu trabalho concursado numa boa. Minha mãe acreditou em mim desde o primeiro dia e eu estava ali com ela; e, agora, faltava apenas o resultado. Seria a hora certa no lugar certo. Seria...

O mundo só enxerga os resultados.

Depois de seis anos, depois de ter largado tudo no Brasil para estudar num país diferente (e “tudo” entende-se família, mãe, trabalho, outra profissão, filha e muitas outras coisas); depois de chegar nesse país diferente e passar por um milhão de dificuldade (e “dificuldade” entende-se passar fome, ser detido pela polícia local por visto atrasado, passar fome de novo, pagar propina para polícia corrupta, pagar advogado corrupto para fazer documentos e muitas outras), vender sua dignidade a preço de banana e deixar seus poucos princípios de lado; depois de uma depressão, depois de se tornar dependente de medicamentos e depois se livrar, de se afastar do mundo e das pessoas, e de..., bom, depois de tudo que passei, finalmente chegou o dia de saber o resultado.

Quem nunca?

Passar. Só uma palavra. Parece a coisa mais simples do mundo. Parece até que tudo o que fiz durante todos esses anos não conta. Tudo que as pessoas conseguem ver é o resultado e, sinceramente, é assim que a vida é. As pessoas não te reconhecem pelo que você fez, ninguém olha os caminhos que você teve que percorrer. Tudo o que perguntam, é: e aí, você passou?

Claro que teve muita coisa boa, conheci gente incrível, amadureci mil anos, aprendi a cozinhar, aprendi a sentir a solidão e não ter medo disso (e até a gostar), aprendi a ajudar (o que para um médico é ótimo), aprendi algo que é ainda mais importante do que ajudar, que é aceitar ajuda de outra pessoa e eu aceitei de gente que jamais esperaria atenção.

As pessoas mais normais que conheci na vida foi na Bolívia!
Os dois lados da mesma moeda.

No meio de tudo isso, vendo alguns “pontos” da nota que me separaram da aprovação da reprovação, me vêm uma questão à cabeça: será que essa prova consegue “medir” isso? Será que essa avaliação (que mais parece um joguinho, um teatrinho) consegue mesmo medir de maneira justa o que é se formar médico e se cada um de nós, que dessa prova participa, é ou não capaz de exercer a medicina? A vontade que tenho era que incluíssem tudo o que passamos, que pudéssemos gritar a todos os cantos essas dificuldades para que possam ver que uma “nota” realmente parece algo escroto demais para determinar algo tão importante.

Mas, saindo do campo filosófico-moral, a vida é mesmo feita de resultado e a prova tenta medir, ainda que de uma maneira teatral, isso. Alguns pontos separam vencedores de derrotados. Resultado, apenas resultado. É somente o que as pessoas veem.

Então vamos voltar a realidade das coisas: estava eu acessando o site do INEP (onde a nota é divulgada) e tentando achar meu resultado e nada. Acontece que minha prova foi feita em caráter liminar e a nota saiu num arquivo grande, em PDF, e eu não a encontrava de jeito nenhum.

Pense num desespero! Eu ali, de frente ao notebook, descendo um arquivo, vendo minhas pontuações de cada questão e não achando a nota final. Meu coração devia estar a mais de 150 batimentos por minuto, eu devia estar prestes a ter uma arritmia fulminante justamente no momento de ver a nota final do exame mais importante de minha vida.

Já até podia ver a manchete no G1


Conversava com uma amiga no WhatsApp que havia sido aprovada e ela estava comemorando e eu não conseguia achar a minha, até que ela me fala que estava bem no finalzinho da página. Foi então que a encontrei. Parece que tudo o que eu era se desmaterializou e sumiu. Não enxergava, não ouvia, não sentia e deixei de existir por alguns segundos.

Olhei mil vezes para ver se era verdade. Parecia até aquelas caricaturas onde a pessoa fica esfregando os olhos para ter certeza que aquilo era real. Eu simplesmente não podia acreditar. Meu Deus, será que isso está acontecendo comigo?! 

De repente, a paz. A tranquilidade. O ritmo do coração se normaliza. A respiração deixa de ser ofegante, os movimentos corporais mais controlados. Olhava para a tela do notebook ainda com alguma incredulidade atentando para aquele número a minha frente, mas agora estava tranquilo. Já podia ouvir o cachorro latindo, o celular vibrando, as pessoas falando. Meus sentidos foram voltando para o meu corpo e tomando seus lugares. E, finalmente, me vi ali sentado numa cadeira de madeira de frente ao notebook, na Bahia, na casa de minha mãe.

Pois bem, chega de enrolar, rs

Para passar era necessário tirar 56 pontos. E eu havia tirado, arredondando, 60 pontos. Passei!



Fiquei ali sentado por alguns minutos esperando meus sentidos retomarem e então me levantei. Minha mãe, que tem 82 anos e ainda costura, estava na máquina distraída e nem imaginava o que estava se passando. Ela sabia apenas que eu estava esperando o resultado final. Fui em direção a ela e parei ali perto. Ela apenas costurava dispersa até que, depois de eu ficar ali perto em pé parado, ela resolveu olhar para mim e, como somente as mães são capazes de diferenciar as lágrimas de tristeza e felicidade, ela na hora soube o que se passava.

Minha mãe à esquerda. À direita é minha madrinha, irmã de minha mãe.
O abraço foi forte. Eu com meu 1,82 m e ela com seus 1,60 m. O resultado é tudo que as pessoas conseguem enxergar, mas não a gente. O abraço foi verdadeiro e, devo dizer, não pelo resultado; porque ela foi a pessoa que viveu tudo o que passei junto comigo. Ela sentia o que eu senti, ela dividiu as minhas dores e era isso o que esse momento significou para nós. Era um desabafo. Não era uma comemoração pelo resultado, era uma comemoração pela coragem e pela força que tivemos de encarar isso até o final. Um abraço que teria acontecido com a derrota. Mas aconteceu com a vitória. Se você continuar lendo as histórias que virão, vai entender o porquê eu ter me formado médico, especialmente em minha família, é uma conquista tão grande. Sim, eu sou um vencedor!


Passei, passei, passei e vou repetir isso mil vezes até que eu consiga medir a dimensão e o significado disso. Meo, eu sou médico, agora! E isso é muito foda, cara, muito foda!

Hoje, 27 de janeiro de 2017, o INEP confirmou a minha aprovação e no dia 01/02 já liberou aos aprovados darem entrada nas universidades brasileiras para pegar o diploma devidamente revalidado. Cerca de 15 dias depois, é só ir ao CRM de seu estado e se inscrever. A inscrição sai no mesmo dia.

E ai, gatinha que nem olhava na minha cara quando era lascado, agora eu tenho CRM!

Nossa, você está tão lindo agora!

Minha comemoração vai ser a seguinte: vou tomar a soma dos números do meu CRM em garrafas de cerveja. Espero que não seja 99.999.


Bora beber, porra!!!!







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