quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Revalida X Prova do CREMESP 2016


Recentemente saiu o resultado acerca das notas dos formados em medicina no estado de São Paulo, a prova do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). As notas, em si, não são divulgadas, mas, sim a porcentagem de aprovados. A divulgação foi feita na maioria dos veículos de comunicação online do Brasil. Também recentemente foi realizado o Exame Nacional de Revalidação de Diploma de Médicos Expedidos no Exterior (Revalida), entretanto, o INEP ainda não divulgou a porcentagem final dos aprovados, divulgando apenas o da primeira fase, o que já me é suficiente para esse editorial.

Como funciona a prova do CREMESP?

É uma prova que eles aplicam aos formandos de medicina que estudam no estado de São Paulo. Essa prova não é obrigatória, porém, caso o formando não faça, não pode se inscrever no CREMESP. Ok, todos eles, de certa forma, são obrigados a fazer, porém, não são obrigados a passar. Na verdade, nem são obrigados a responde-la, basta assinar o nome e entregar, caso queira. A nota de corte é de 60%.

E o Revalida?

É pré-requisito para exercer a medicina a nível nacional. Sem realizar essa prova, o médico formado fora do Brasil não pode exercer a medicina. E como sabemos, não basta realizar na prova, é preciso passar. A nota de corte é de 51/52% na primeira fase e 56% na segunda.

Vamos aos números.

Em 2016, a prova do CREMESP reprovou 52% de seus candidatos. É um número bastante alto, se considerarmos que quase mil médicos exercerão a medicina regularmente no Brasil sem nenhum problema, mesmo sem passar no exame. Na primeira fase do Revalida (prova Objetiva e Discursiva), o índice de reprovados foi próximo a 65% e, devo dizer, foi baixo, em comparação com edições anteriores. Acredito que com a prova de Habilidades Clínicas, o total de reprovados alcance os 80%. Mas nesse artigo vou me reservar a falar da prova objetiva, já que o CREMESP não dá prova prática.

Mas o que esses números têm a ver?

Nos últimos dias, acompanhando as páginas de rede social da Bolívia, venho notando que os estudantes de medicina deste país vêm fazendo uma série de comparações entre os formados no Brasil e fora dele. Em parte, bastante compreensível que façamos essas comparações, pois somos obrigados a fazer o Revalida (o que acho bastante junto) e, no Brasil, não precisam fazer prova.


Mas será que essa comparação é justa? Vamos a alguns fatos:

A prova do CREMESP não reprova. O cara que não fizer, poderá se inscrever normalmente no CRM de qualquer parte do Brasil, exceto SP. Se fizer, poderá se inscrever em qualquer parte do Brasil, inclusive SP. Com isso, não há motivo algum que um candidato vá se empenhar em passar numa prova que não lhe servirá de nada. Não importa se tirar 100 ou 0, sua vida seguirá a mesma. Desta forma, muitos dos formandos em medicina de São Paulo não vão dar o melhor de si para sacar uma boa nota, simplesmente porque não necessitam dela. Da mesma forma, esses formandos não vão se preparam para esta prova como alguém que se prepara para uma prova séria, na verdade, existem aqueles que vão fazer a prova revoltados pela “obrigatoriedade” e apenas picham o gabarito; não estudam especificamente para ela, não vão dormir mais cedo, não têm um nível de concentração adequado e, na menor dúvida diante de uma questão, marcarão qualquer coisa. Por outro lado, os estudantes de fora do Brasil, ao menos os mais sérios, passam boa parte do tempo se preparando para o Revalida e, na maioria dos casos, a considera como a prova de sua vida. Esses argumentos por si só já são suficientes para não cometermos o erro de comparar um índice de reprovação com outro. São situações bem diferentes.


Claro que não estou defendendo as universidades paulistas ou diminuindo as de fora, só quero deixar claro que são situações distintas. Entretanto, no dia em que tiver uma prova obrigatória onde o formado em medicina do Brasil dependerá da aprovação para o exercício da profissão e tiver um índice tão alto de reprovados, as comparações poderão ser válidas.

O fato é que nós, formados fora, precisamos fazer o Revalida e eles não. Temos de estudar mais, mostrar que somos bons, superar as expectativas e parar de nos preocuparmos com os brasileiros que se formam no Brasil, afinal, eles também têm e tiveram as inúmeras dificuldades deles, mesmo que sejam diferentes da nossa. Sabemos, inclusive, que não é só na Bolívia, Paraguai ou Argentina onde as universidades particulares são mesmo usadas para arrecadar grana, no Brasil também é. Sabemos disso. Mas o pior que posso ver, é ver meus companheiros de Bolívia choramingando e se colocando na posição de vítima por ter de realizar uma prova e eles não. Parece o irmão mais novo que fica birrando com o mais velho porque ele já pode sair à noite.

A dificuldade tem de nos fazer mais forte na medida que a superarmos. Entenderam? Mais fortes!






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