sábado, 31 de agosto de 2013

Abuso da INTERPOL em Santa Cruz de la Sierra


Não novidade. Vez ou outra a polícia boliviana, INTERPOL, invade casas, apartamentos, hotel ou qualquer tipo de moradia que tenha bastante brasileiro.

A conduta (que eu chamaria de modus operandi) é sempre a mesma. De madrugada, seja 1, 2, 3 ou 6 da manhã, adentram em algum dos locais citados, abruptamente, como se estivessem em busca de algum suspeito de alta periculosidade. Não portam nenhum documento expedido por qualquer autoridade local, como um mandado de busca, de prisão, de apreensão, absolutamente nada; tudo que têm nas mãos são armas e distintivos.
Depois de invadirem o prédio, batem violentamente porta por porta e invadem as residências, o local sagrado de qualquer humano (e aqui estamos falando de direitos humanos) sem qualquer tipo de autorização do morador, sumariamente, como se fossem lixos.

Até aqui na Bolívia isso é ilegal. Eles precisariam de mandado ou só entrariam com expressa autorização do morador e, mesmo com mandado, teria que ser específico para cada morador e não para fazer uma batida no prédio inteiro, como fazem.

Após entrarem nas casas, saem de quarto em quarto revistando cada morador, abrindo armários, guarda-roupas, malas, bolsas, livros buscando sabe-se lá o quê, já que não dizem por que estão ali ou dão qualquer tipo de justificativa. Reviram tudo de pernas para o ar e, normalmente, não encontram nada e, no final, detêm alguns brasileiros por qualquer motivo que seja e sem maiores explicações. 


Isso acontece frequentemente.

Acho estranho uma polícia no nível da INTERPOL, que é a chamada polícia internacional, com uma postura dessas. Não deviam estar atrás dos narcotraficantes bolivianos e de todo o mundo que vêm para cá em busca de drogas? Está certo que têm aluno que é também traficante, mas será que uma polícia do nível da INTERPOL (pelo menos da INTERPOL de todo o mundo, não sei bem o nível da daqui) não sabe como prender traficantes adequadamente e dentro da lei?!

Entrei em contato com as autoridades consulares do Brasil nesta cidade, inicialmente, por sua página no Facebook e, mais tarde, por e-mail e obtive a resposta, como se segue:

De: **** (meu e-mail)
Enviada em: jueves, 29 de agosto de 2013 10:53
Para: geral@consbras.org.bo
Assunto: Polícia Boliviana
Bom dia.




Venho, através deste canal, pedir informações acerca da postura da polícia boliviana, INTERPOL, e se seus procedimentos, os quais descrevo abaixo, são os corretos.



Ontem pela manhã, a denominada INTERPOL, entrou num prédio residencial onde a maioria daqueles que moravam são brasileiros. A invasão ocorreu pela manhã, cerca de 06h00. (SIC) Os policiais não foram claros no que buscavam e, simplesmente, invariam apartamento por apartamento revirando móveis, objetos pessoais e documentos, tudo isso sem a autorização expressa do morador. Nenhum policial tinha em mãos qualquer mandado de busca, apreensão, investigação ou de qualquer espécie. Não havia situação de urgência ou emergência que justificasse isso num país de direito e, essas ações, que ocorreram por iniciativa de um executivo sem passar pelo judiciário, são constantes.

A dúvida é: isso é legal aqui na Bolívia? Pode, a polícia, de sua própria iniciativa adentrar em imóveis particulares sem autorização dos moradores e sem mandado? 



Qual a postura oficial desta representação a qual me dirijo agora acerca destes acontecimentos?


Grato pela atenção.


Obtive a seguinte resposta:

Para: *** (meu e-mail)
Cc: geral@consbras.org.bo

Caro Senhor **** (meu nome),
Não se trata da primeira vez que a INTERPOL realiza operação semelhante dirigida à estrangeiros, muitas vezes, estudantes brasileiros. No ano passado, tal procedimento abusivo motivou gestões diretas do Cônsul-Geral e do Oficial de Enlace da Polícia Militar junto ao Chefe  da INTERPOL. Houve, desde então, uma trégua nas denúncias de operações desta natureza. No entanto, a ocupação dos cargos de chefia das instituições bolivianas apresenta, em geral, alta rotatividade e, dependendo de quem os ocupe, tais mudanças no comando costumam anular o efeito de entendimentos anteriores, tornando necessária a repetição periódica das mesmas gestões.
Este Consulado está tomando providências para tratar novamente do tema junto às autoridades locais pertinentes.
Atenciosamente,
Saide Saboia


Os contatos com a INTERPOL não obtiveram respostas.
Como se vê, as autoridades brasileiras têm conhecimento de tais condutas. Falta, inclusive, que os estudantes brasileiros façam mais denúncias deste tipo, pois são extremamente omissos em tudo. Creio que, se todos denunciassem, essas condutas diminuiriam drasticamente. Não há sequer uma associação de estudantes brasileiros, mesmo havendo mais de 15 mil estudantes de medicina na cidade de Santa Cruz de la Sierra. Creio que uma organização de estudantes, aliada a denúncia, traria mais força, não só com relação a estes abusos específicos, mas a todos os outros que sofremos dia a dia por aqui, inclusive dentro das universidades.


Quer saber porque, com tudo isso, eu vim fazer medicina na Bolívia? CLIQUE AQUI!

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