segunda-feira, 12 de agosto de 2013

7 Motivos para não fazer medicina na Bolívia - PARTE II



Motivos para não vir, são muitos. Vai desde de a deficiência no ensino, passando por revalidação de diploma, até as questões cambiais que, vez ou outra, estão desfavoráveis.

Caso queira ver os "motivos para não fazer medicina na Bolívia - parte I", CLIQUE AQUI.

Vantagens de estudar medicina na Bolívia, CLIQUE AQUI

Hoje vou dar ênfase às universidades de Santa Cruz de la Sierra e suas deficiências e, principalmente, os perrengues que o bom estudante passa por aqui. E são muitos.

10. Falta de compromisso de alguns professores. 

Esse é um problema que, certamente, deve existir em todo mundo e aqui não é diferente. Alguns professores simplesmente não se importam se o aluno está ou não aprendendo alguma coisa. Faltam a maioria das aulas, não se preparam ou planejam adequadamente e as aulas acabam sendo extremamente improdutivas. Tive uma professora de Reumatologia que, durante todo o semestre, deu duas aulas (se é que se pode chamar aquilo de aula). Em semiologia, tive três professores durante todo o semestre, pois se demitiam e, pior, se demitiam e não deixavam as notas; em semiologia II não foi tão diferente (e estamos falando da base da medicina, que é a semiologia e semiotécnica). Porém, é bom deixar claro que existem ótimos professores (gastro, traumato, cirurgia geral p. ex.).

11. Carência de aulas práticas.

Isso é praticamente uma unanimidade. Aqui praticamente inexiste prática de verdade e, pode-se dizer que o aluno só vai aprender prática de verdade quando vai para o internato. Chega a ser patético ir a uma prática e ficar menos de uma hora, porém, isso acontece e com muitíssima frequência. Chega a ser desolador nunca atender pacientes de verdade.

12. Falta de compromisso das universidades para com aluno.

As universidades particulares da Bolívia (falo de Santa Cruz, mas o restante não deve ser diferente) não têm o menor compromisso com aprendizado do aluno e só visam o lucro; não se vê uma filosofia clara, no que diz respeito ao objetivo de ensino que não seja o dinheiro. Sabemos que a Bolívia é um país carente, e as universidades não demonstram a mínima preocupação social. Tem uma população imensa que poderia ser "usada" para atendimento e aprendizagem do aluno e, ao mesmo tempo, esta mesma população teria o benefício de um atendimento gratuito, já que aqui a saúde é paga. Os donos de universidades e gestores de educação em saúde, nas faculdades particulares, só visam o próprio lucro. No final, perde o aluno e perde a sociedade, enquanto os "empresários da educação" vão para Miami gastar dinheiro nas praias americanas.

13. O aluno aqui, na condição de cliente, nunca tem razão. 

E tudo aqui é na base da "razão", ou seja, agem de acordo com o que pensam sem se basearem em leis ou regras pré-estabelecidas. Por exemplo: um indivíduo se matricula, estuda por um tempo e, do nada, dizem que será obrigado a trabalhar por mais seis meses de graça, obrigatoriamente; passam a cobrar taxas que antes não existiam, a pedir multas e seguros pouco esclarecidos. As regras aqui passam a valer para quem já está estudando e se matriculou na "regra antiga".  Não existe um contrato claro de prestação de serviço da universidade para com o aluno e, se existe esse tipo de lei aqui, esconderam bem longe. É o fim da picada. Não há (ou não publicam) regimentos internos, comunicados internos e tudo fica a critério do cabeça (dono da faculdade) que decide o que bem quer, na hora que quer e do jeito que quer e o aluno que espere sua boa vontade e que decida a seu favou ou contra, não baseado em regimentos, mas baseado na sua imaginação.

14. O aluno sempre leva a pior, em qualquer situação.

Principalmente se não tem dinheiro. Se tem, essa regra não se aplica. 
Foto meramente ilustrativa. Fonte: divulgação.
Se quiserem segurar sua documentação depois de formado, seguram. E você fica anos preso aqui esperando liberarem. Para isso, basta não irem com sua cara ou você ser um aluno muito contestador, aquele que briga por melhores condições e busca uma melhor qualidade; neste caso, te fodem mesmo e não adianta choramingar. E, por falar em choro, o que mais tem é aluno chorando (literalmente) para conseguir resolver algum tipo de problema na universidade; desde problemas de documentação até assuntos relacionados a notas que sempre somem (próximo item). Claro que, se você tem grana, as coisas ficam muito mais fáceis de resolver.

15. As notas somem do nada.

Foto meramente ilustrativa. Fonte: divulgação.
Imagine você estudar por seis anos e um dia descobrir que suas notas simplesmente desapareceram do sistema. Pois é, isso acontece por aqui. Sei de aluno que teve de estudar duas vezes o mesmo ano. E não adianta tentar provar com comprovantes de pagamentos ou testemunhas ou seja lá como for, eles simplesmente olharão para sua cara e dirão que "no hay sus notas aquí". Se quiser estudar aqui, reze para que nenhuma "intercorrência" aconteça, porque, se acontecer, será um parto até resolverem, se resolverem.


16. Alunos pouco preparados.

Se ao menos tentassem suprir as deficiência, mas não tentam. Querem ser médicos e não querem estudar; alguns são semi analfabetos e não sabem nem o português (imagine o espanhol). E, pior, as universidades não reprovam como deviam; fazem de tudo para aprovarem os alunos fazendo os professores aplicarem provas com nível de dificuldade de primário, tudo isso para atrair cada vez mais brasileiros e não terem fama de reprovadoras; ou seja, valorizam o mau aluno. Ainda bem que têm bons professores que não seguem essa filosofia e reprovam mesmo! Esses valorizam o bom aluno.



Não leu a primeira parte? Clique aqui.

Nota: 
As opiniões, aqui contidas, são minhas. Se tem alguém que não gostou ou discorda, e certamente tem, é direito de cada um. Aconselho que procure outro lugar ou escreva um blog com suas próprias opiniões. Tudo o que está escrito aqui já aconteceu comigo e com a maioria das pessoas que conheço.
Outra coisa, isso aqui não é comparativo com o Brasil; poderia escrever um tratado de mil páginas com os problemas brasileiros (e não ia caber), mas meu blog é sobre minhas experiências na Bolívia, e não no Brasil, na Africa do Sul ou na Alemanha

Este site não tem carácter jornalístico e não representa verdade absoluta, representando apenas minhas opiniões e vivências.Não foram ouvidas outras partes, porém, se fazem livres para contestarem quando quiserem.Nomes e comentários aqui citados é de responsabilidade de quem comenta.

3 comentários :

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu disse antes que os motivos para não estudar na Bolivia também valem no Brasil. Aqui vai meu comentário sobre o item 10 - Falta de compromisso de alguns professores.

    Tive um professor de anestesiologia que só aparecia um dia sim, um dia não. Em geral, ele não vinha nas aulas práticas, que versam sobre preparação de washout solutions para limpar anaesthetic machines (desculpem o inglês, mas em medicina nem se aprende a usar outra língua), síntese de substâncias anestésicas, capnografia, etc. Coisas que ninguém usa na prática, pois as substâncias anestésicas já vêm prontas e capnógrafos, no Brasil, só existem em hospitais escolas. Acontece que um professor ministra as aulas e outro professor aplica as provas. E o professor que aplicava as provas, nesse caso, era um fanático por química e só pediu prática na prova final. Metade da turma foi reprovada.

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    1. Ja pensou em ter aula de psiquiatria com uma psicóloga? Ou ter aula de reumatologia com uma recém formada? Quantos mestres ou doutores crê que ministram aulas na Bolívia, nas universidades particulares? NENHUM é a resposta, pelo menos eu não conheci nenhum, ainda que, por Deus, deve haver algum por ai.

      Ja pensou em estudar as matérias de especialidades da CM (cardio, dermato, oftalmo) com residentes EM OUTRAS AREAS?

      E esse não é o grande problema. Você bem citou um problema particular de uma matéria e um professor. Aqui as deficiências são institucionalizadas e comuns. A não ser que me dê outros argumentos, esse seu problema é quase uma solução na Bolívia.

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