Fala-se tanto da gloriosa medicina brasileira.
E ultimamente, nas redes sociais, é implacável, por parte dos médicos
brasileiros, a busca por notícias de erros médicos cometidos pelos
profissionais estrangeiros do “Mais Médicos”. O que nunca se viu, por parte
dessas mesmas pessoas, foi escrachar as deficiências da formação médica das
universidades brasileiras. Colocam diária e sistematicamente postagens de
prescrições que consideram absurdas, algumas realmente absurdas, outras nem
tanto e devo dizer que já vi prescrições de médicos brasileiros tão horrendas e
bizarras quanto (afinal, meus 10 anos na enfermagem me serviram de algo). Hoje,
fazendo medicina na Bolívia e acompanhando todas as notícias que chegam do país
do carnaval, venho questionar (com fatos) a tão maravilhosa medicina
brasileira.
Primeiramente,
quero deixar claro (para quem não sabe) que sou a favor do Revalida, que sou
contra o Mais Médicos como ele é e que acho essa contratação de cubanos uma
medida eleitoreira e de financiamento da ditadura cubana. Dito isso, vou
explanar do porquê de questionar a medicina brasileira contando duas histórias
absurdas de erro médico cometidas por profissionais formados em excelentes
universidades brasileiras. A primeira história, conto neste post, a segunda eu
conto depois. Vamos a primeira:
Há
poucos dias, morreram duas pessoas da família de MT. Um,
seu pai (avô, na verdade, mas ela o chamava de pai por ele a ter criado) e o
outro sua irmã de 20 anos que tinha Lúpus (LES). Ou seja, num intervalo de
menos de um mês, a mãe da MT perdeu o pai e a filha.
O
avô da MT tinha enfisema pulmonar e, por consequência, insuficiência
cardíaca. Vinha estável dentro de seu quadro já complicado, mas vinha estável
nos últimos dias. Teve uma piora e foi encaminhado a um hospital da zona leste
de São Paulo (um hospital escola de terceiro nível, novo e administrado pelo
Estado e uma associação) onde foi diagnosticado com edema pulmonar (EAP) (agua
no pulmão). Ali, ficou 3 dias, quando teve alta e, na entrada de casa, quando
retornava da alta, subindo as escadas para seu quarto, morreu. Havia sido
atendido por dois médicos do hospital; a primeira, o mandou para a semi
intensiva e ordenou que ele devia ficar lá por, no mínimo, sete dias. Dois dias
depois, ao ser reavaliado por um outro médico, este o liberou de alta, afinal,
na cabeça gorda dele, se o EAP já tinha “secado”, já podia ir para casa. Não
precisa ser um gênio da medicina para saber que esses pacientes complicam seu
quadro por algum fator estressante; pode ser uma infecção (muito comum) ou um
infarto, p. ex.. Nada foi investigado; trataram o EAP isoladamente com
diuréticos e o mandaram a casa. Não vou entrar em detalhes técnicos aqui, mas
afirmo que nunca, jamais, é aceitável liberar um paciente e ele morrer cerca de
30 minutos depois e pela doença que estava sendo tratada. Isso não é fato
isolado; quem lê minhas histórias sabe que fui técnico de enfermagem, e cansei
de ver pacientes morrerem por negligência e por erros escabrosos e nunca,
jamais, vi sequer alguém falar qualquer coisa, postar qualquer frase de
indignação em “rede” ou questionar validade da formação médica brasileira. Já
com os cubanos...
Sobre
esse caso, conversei com um médico brasileiro pela “chat” do Facebook; vejamos,
agora, a mais pura tentativa de manter o corporativismo mesmo diante de
argumentos irrefutáveis de minha parte:
(EU)
Lembra aquela moça que te falei que tinha uma ulcera na perna? Morreu, e foi um
erro médico escabroso de médico formado numa das melhores universidades
brasileiras.
21 de novembro de 2013 17:27
(ELE)
Que erro
(EU)
Depois eu vou postar num blog que tenho e você lê...é uma longa história que
abreviou a vida de uma moça de 20 anos... e, antes, há 20 dias atrás, o pai da
mãe dessa menina que morreu, também morreu por um GRAVE erro médico, ou seja, a
mulher perdeu a filha e o pai em 20 dias por erro médico
(ELE)
Conta aí cara
23 de novembro de 2013 16:26
(ELE)
me fala aí sobre o erro
(EU)
Então... eu vou postar no blog, mas já vou adiantar algumas coisas aqui: O pai
de minha noiva (é avô, na verdade, mas foi ele quem a criou) tinha cor pulmonale (CP) devido enfisema;
acontece que nos últimos dias antes de morrer, teve uma crise de dispneia e foi
levado ao hospital (um hospital geral novinho, do SUS). EAP. Ficou lá no
primeiro plantão, uma médica atenciosa que já o internou na semi intensiva; ele
deu uma baita melhorada, mas necessitava de cuidados. O médico seguinte que
pegou plantão, tirou ele da semi e mandou pra retaguarda, da retaguarda, já no
dia seguinte, mandou para casa. Alta. Quando ele voltava para casa, subindo os
degraus de sua casa ao lado de duas filhas (uma delas, mãe de minha noiva),
perdeu a consciência e morreu. Morreu nos braços das filhas.
(EU)
Porque recebeu alta desse segundo médico, sendo que a primeira já havia dito
que ele devia ficar na semi ao menos 10 dias??? Tá... entendo que o segundo
pode mudar a conduta, mas mudar assim, pondo a vida de uma pessoa em jogo? Sabe
o que é foda, cara? Isso acontece todos os dias e não é culpa do sistema
sempre; é culpa de profissionais de saúde mesmo. Claro que resumi a história;
deve detalhes ai que só quem é paciente e pobre sabe como é. Infelizmente, a
porcaria do sistema de saúde brasileiro é uma bosta, mas os profissionais, em
boa parte dos casos, também é. Não por falta de conhecimento, mas por desleixo
mesmo, por falta de empatia... a droga do conhecimento não vale nada sem isso e
isso é só o começo... o pior mesmo foi a morte da Quésia, filha dessa mesma
mulher que, havia 20 dias perdia o pai, agora perdia a filha; e por uma
negligência médica também, mas essa história fica para depois..
(EU)
leu? ta ai?
(ELE)
Nessa história aí do senhor, não consigo ver onde o cara errou. Eu passo
visitas cara e temos que dar altas para muitas vezes liberar o leito para
alguém que precisa mais, mas isso tem que ter critério. Esse paciente devia ter
uma baita risco cardiovascular, se ele foi compensado do ponto de vista
cardíaco, poderia sim ter tido alta; deixá-lo internado não mudaria muito a
história e poderia expô-lo ao risco de pegar uma infecção.
23 de novembro de 2013 18:10
(EU)
Se ele tivesse sido compensado, não teria feito outro EAP na porta de casa.
Onde já se viu um médico dar alta, em qualquer circunstância que seja, esse
paciente morrer meia hora depois da patologia que ele vinha sendo tratado, e
essa conduta ser correta?
Dentro
desse pensamento do "liberar leito" (que nem se aplica aqui, pois
conheço muito bem esse hospital, trabalhei lá e é um hospital fechado, sem PS e
o que mais tem ali é leito), haveria um paciente mais grave que poderia ser
tratado "mais" que esse senhor??? Um que morreria nos próximos 15
minutos, então? Porque ele morreu 30 minutos depois! Isso é inadmissível,
cara... ele liberou o cara com edema pulmonar estabelecido sem finalizar o tx
(tratamento), simples assim. Você falou de risco de infecção... nem precisa ser
um gênio para saber que estes pacientes descompensam, na imensa maioria, devido
a alguma pneumonia, ITU ou qualquer outra coisa que passaria desapercebido num
cara normal, mas num paciente CP não; nem isso foi investigado. Trataram o EAP
isoladamente e você vem me dizer que estavam correto? Que é culpa do sistema?
Fala sério, Ev*** (nome dele), esses erros se tornaram tão lugar comum que já faz
parte das condutas médicas; deviam protocolá-los... sistematizar isso...
colocar no rol das condutas aplicadas aos pacientes do SUS. Cara, quando eu for
médico, não vou ser um bost* desses não.
24 de novembro de 2013 12:49
(EU)
Só pra finalizar essa história. Você ainda acha que a conduta do médico foi
correta?
Ele
não me respondeu mais.
Depois
eu volto para contar sobre o erro que culminou na morte, 20 dias depois, da
neta deste mesmo senhor que morreu tragicamente. Agora imaginem para a mãe
dessa moça, perdê-la, depois de, 20 dias antes, ter perdido seu pai. Alguém ai
ficaria tranquilo em saber que perdeu o pai e a filha, em menos de um mês, por
erros médicos?!
Infelizmente estão banalizando a saúde; o sistema e os profissionais; é minha opinião. Felizmente ainda há muitos médicos empáticos, dedicados, com muito conhecimento e que trabalham em prol da vida e, para o paciente, isso é o mais importante. O paciente não quer saber onde ele se formou, quer ser tratado com dignidade pelo sistema (que é uma merda) e pelos profissionais, mas que nem sempre correspondem a esta necessidade; e isso não se aprende nas universidades, sejam elas cubanas, brasileiras ou bolivianas, simplesmente. Ainda não há vestibular ou Revalida para avaliar a capacidade de agir como um ser humano.
Infelizmente estão banalizando a saúde; o sistema e os profissionais; é minha opinião. Felizmente ainda há muitos médicos empáticos, dedicados, com muito conhecimento e que trabalham em prol da vida e, para o paciente, isso é o mais importante. O paciente não quer saber onde ele se formou, quer ser tratado com dignidade pelo sistema (que é uma merda) e pelos profissionais, mas que nem sempre correspondem a esta necessidade; e isso não se aprende nas universidades, sejam elas cubanas, brasileiras ou bolivianas, simplesmente. Ainda não há vestibular ou Revalida para avaliar a capacidade de agir como um ser humano.
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