domingo, 22 de abril de 2012

FEIJÃO NA BOLÍVIA, UFA!



Leia a partir do primeiro post: COMO TUDO COMEÇOU



Já havia uns quinze dias que estava morando sozinho en Bolis, afinal, os outros moradores ainda não haviam chegado. Na verdade, dos 4 outros moradores, somente um deles voltaria e teríamos de correr atras de alugar os outros quartos.

As aulas eram, até certo ponto, interessantes. Na universidade, nos cursos de medicina, praticamente só há brasileiros e o português é a lingua oficial, ainda que as aulas sejam ministradas todas em espanhol, assim como as avaliações, provas e trabalhos apresentados pelos alunos. Se vê todo tipo de gente nas universidades bolivianas; pessoas que, me perdoem, não sei porque estão fazendo medicina.

Aos poucos fui notando as deficiências, vantagens e desvantagens de estudar a cá. A principal vantagem é o preço que se paga pra estudar e, no meu caso, por ser enfermeiro, o tempo de formação menor.

Já começava a ouvir as histórias fantásticas que rondam no submundo dos estudantes de medicina como compra de diploma, compra de provas, compra do "CRM", compras de vagas de transferência para o Brasil e outras. Fui percebendo que en Bolis há muita gente com dinheiro e que, se não fosse o vestibular, poderiam estudar no Brasil. Na verdade, diziam que fulano era filho de prefeito, sicrano de um deputado do Acre (acho que os deputados do Acre são os que mais fazem filhos que vão estudar na Bolívia, segundo essas histórias), outro era filho do dono duma grande rede de supermercado; e teve um que me apontaram dizendo que era filho do dono da Casas Bahia... será que eu ouvi bem?!

Peculiaridades a parte, aos poucos as coisas foram se encaixando. O Kleber, que ja morava na casa antes de ir de férias ao Brasil, chegou; agora teria uma companhia e não estaria mais tão sozinho (Gillian passava o tempo todo na casa da namorada). Continuava me alimentando de pollo e miojo; já devia estar pesando uns 60kg de tão magrelo que fiquei (ainda mais magrelo, claro).

  *Estava dormindo o sono dos anjos quando ouço um barulho no portão (me acordava com qualquer som, o mais mínimo que fosse, devido estar ali sozinho). Depois relaxei. Silêncio. Poucos segundos depois, outro barulho; agora na porta. Alguém abria a porta da casa. Entrei em pânico ali sozinho; pensei que estariam invadindo a casa pra roubar. Resolvi agir; peguei a vassoura no banheiro me armando com ela e abri a porta do meu quarto, bem devagarzinho... vejo um cara careca no corredor. Ele olha pra mim, eu olho pra ele e então falei "quem é você?", quando ele respondeu, já achando que eu era um ladrão: "sou o Kleber, eu moro aqui" e, depois de desfazermos os enganos, nos cumprimentamos. Ele disse que morava ali e estava chegando do Brasil naquele dia; eu me apresentei devidamente e, depois que voltei pro meu colchão no chão, dei graçasagod por ter mais alguém na casa.

As coisas começavam a tomar uma rotina. Já ia pra faculdade de micro (era perto de casa, poderia ir a pé, mas fazia muito sol e a condução era baratinho, 1 peso), fazia arroz no fogão elétrico, fritava carne e ovo e fui abandonando os pollos. O Kleber passou a ir comigo às feiras, então comprávamos frutas e salada que colocávamos na geladeira que Gillian havia emprestado (e que logo depois vendeu pra outra pessoa). 

Depois um tempo, aquela casa que era totalmente vazia, lotou de gente. Alugamos o outro quarto vazio e a sala (sim, alugamos a sala, era um espaço morto na casa, pois não tínhamos móveis e a televisão que ali se encontrava era do Kleber, que levou-a a seu quarto). Para o outro quarto, veio dois rapazotes; Vitor e Wilson Pani eram irmão, dois rapazes de 18 e 19 anos que tinham geladeira e (meu Deus, que felicidade!) fogão. Finalmente teríamos um fogão! Para a sala veio um casal que também tinha todos os móveis (geladeira, fogão e panelas), mas montou um quarto-cozinha na sala (lembra que disse que a sala era enorme?!) ficando isolados, pois a sala tinha uma porta exclusiva e nós, os outros moradores, entrávamos pela cozinha e fechamos o acesso da sala ao resto da casa. Todos os moradores dividiam o mesmo banheiro, exceto eu, que tinha o meu exclusivo no meu quarto e todos usávamos a mesma cozinha pra lavar louça.


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Boliviana pesando legumes. Observe que que há as mesmas coisas que nas feiras brasileiras, mas sem a mesma organização. Cortar essas cebolas faria até o Hitler chorar.



Com fogão e geladeira podíamos cozinhar em casa com tranquilidade. Íamos a uma feira (foto acima) e comprávamos de tudo: arroz, feijão (cara, que felicidade comer feijão depois de tanto tempo!), carne, ovos, temperos, frutas e verduras. Dividíamos os valores em quatro partes iguais e ficava bem baratinho e, fazendo as contas, comeria bem a mês inteiro. 


Mercado de carnes na Bolívia. Aqui não tem fiscalização efetiva da vigilância sanitária; nem sei se existe. Observe as carnes dependuradas em ganchos, mais ao fundo e lados há muito mais carnes de todos os tipos.



Dividíamos todas as tarefas: eu e o Kleber ficávamos com a janta e o Vitor e Wilson com almoço; combinei com o Kleber que poderíamos revezar; ele cozinhava numa noite e eu na outra e cada um lavava sua louça e, as panelas, lavava o responsável por fazer a janta; a faxina era feita aos finais de semana. Aprendi a cozinhar, a fazer carne cozida, frango cozido, a economizar gás, a maneirar no sal, a calcular a quantidade certa de alimento pra não desperdiçar; o Kleber fazia um ótimo macarrão (era sua especialidade) assim como salada de maionese e aprendi com os guris que um pouco de coloral engrossa o caldo do feijão e a colocar cenoura picada no arroz pra dar um saborzinho especial, além de melhorar a aparência. Estava tudo redondo e funcionando perfeitamente; na verdade, nunca tivemos qualquer problema nesse sentido.

A casa passou a ter cheiro e som de lar. Nada como o som de uma panela de pressão cozinhando um feijão. 



*Mais ou menos a cada 15 dias íamos a feira. Pegávamos um micro e voltávamos com o táxi a barrufado de coisas. Todos comíamos muito; muita carne, muito arroz e feijão e cozinhávamos muito, gastando assim, bastante gás; mas o gás en Bolis era cerca de 25/30Bs, ou seja, menos (na época) de 7 reais (hoje está 30/35bs), porém, o botijão é um pouco menor. As feiras são meio sujinhas, as carnes e frangos ficam ao ar livre, as frutas são extremamente lindas, porém, com agrotóxico, assim como as verduras e legumes (que não são tão bonitos assim). Nessa feira, se pesa com a libra (uma libra é igual a uns 450 gramas) e com balanças rudimentares (que com certeza pesa favorável ao vendedor). Os vendedores são um tanto, mal educados e pouco atenciosos; alguns não deixam você escolher qual fruta pegar, primeiro pesam a carne com gordura e depois tiram a gordura (quase a metade da carne... hahaha) ao fazer os bifes... Aliás, os serviços na Bolívia, no geral, são péssimos! Mas sobre isso falarei mais adiante.




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