sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Cidade - Santa Cruz de la Sierra


Essa é minha história, comece lendo daqui: COMO TUDO COMEÇOU.


Com o tempo, fui conhecendo melhor a cidade. Já sabia sair sozinho para coisas essenciais como ir ao banco (fato que merece um post a parte), à feira, ao cabeleireiro, aos puntos de llamadas (local onde se faz ligações telefônicas, principalmente internacionais - aqui praticamente inexiste orelhão). Sair um pouco de casa, além de ir à faculdade, me ajudava esquecer um pouco a saudade do Brasil, da família, de minha filha, mãe, irmãos, amigos...

Eu já devo ter dito que aqui o transporte é bem barato; andar de taxi (que no Brasil é caríssimo, na minha opinião), em Santa Cruz de la Sierra é bem mais barato e tem-se a opção de andar de mico-ônibus, que também é bem barato, porem, é um meio de transporte extremamente precário para uma cidade deste porte. E, por falar em cidade, hablarei um pouco sobre Santa Cruz de la Sierra e minhas impressões sobre ela.

Uma das primeiras coisas que fiz, ao chegar em Santa Cruz, foi pesquisar no Wikipedia (link no final) sobre a mesma; população, densidade, clima, relevo... anyway... isso qualquer um pode fazer, portanto, não me aterei a isso. Caso alguém queira saber sobre a cidade por estas fontes, leia aqui ou, opções de viagem ou como chegar, leia aqui.

Antes de mais nada, Santa Cruz de la Sierra é uma cidade e capital do Estado de Santa Cruz.

Num primeiro momento, achei a cidade melhor do que previa minhas expectativas. As casa são, em sua maioria, muito bonitas; eles capricham nos detalhes arquitetônicos e souberam aproveitar muito bem os espaços. Explico: as casas são feitas em terrenos amplos, em praticamente todas há um jardim na frente (modelo americano, porém, bem mais modesto) num gramado verde, quase sempre muito bem cuidado, apesar dos amplos terreiros, as casas costumas ser grandes, com amplas janelas de vidros acortinadas e de muito bom gosto. Normalmente, as casas possuem dois banheiros e, em quase todas, há uma suite, mas o aluguel é bem caro. As ruas, infelizmente, não possuem rede de esgoto (exceto em regiões de alto padrão), há somente esgotos para as residências ficando alagadas, as ruas, em períodos chuvosos; passado alguns quilômetros do centro, muitas não têm asfalto. Aguá e energia elétrica nunca faltam, a água da torneira é limpa (eu sempre bebi da torneira e nunca tive nada) e a energia, 220 volts, não tem um preço muito camarada. A internet é um lixo! Nunca encontrei um serviço com velocidades que chegassem a 1 Mb (a minha atual é de 224 Kb/s para dividir com mais duas pessoas), ainda que exista (1 MB) para determinadas regiões (creio que esta seja a velocidade mais alta do país), ainda não presenciei; sem contar o preço; paga-se cerca de 70 reais por mês por 360 Kbps. Esse valor, para o boliviano médio (e o brasileiro pobre, como eu) é altíssimo; é por essas e outras que em Santa Cruz é abarrufado de lanhouse, estas com preços camaradas.

Vista da av. Banzer e do Cristo (ao centro da rotatória). Ponto nobre de Santa Cruz de la Sierra





A cidade é formadas por anillos (anéis), que são vias arteriais que dão uma volta em si mesma. Tem um total de oito ou nove anéis. Existem outras vias de trânsito rápido que ligam um anillo a outro e no meio de tudo isso, pequenas avenidas, ruas e vielas. Parece que foi tudo muito bem planejado.


Vista aérea da cidade de Santa Cruz de la Sierra - observe a formação dos anillos que formam a cidade




A cidade é recheada de praças; praças, campos de futebol, quadras poliesportivas e muito verde, porém, sem muita manutenção. A impressão que tenho é que, num dado momento, alguém construiu tudo de bom que tem na cidade e depois esqueceu que precisa manter, portanto, é comum ver quadras sem as traves ou as cestas de basquete, faltando alambrados ou esburacadas; praças com gramados enormes e esquecidos ou com os bancos destruídos. Uma pena.

Plaza 24 de Septiembre, centro de Santa Cruz de la Sierra



O trânsito: Ah, o trânsito! Cara, o trânsito em Santa Cruz é... é... (procurando adjetivos que supra minhas impressões de maneira satisfatória sem parecer deselegante... estou num dia bom, hoje)... Horrível! Não, horrível não, é uma loucura mesmo! Pra começar, não existe limites de velocidade, na prática. Já até me deparei com algumas placas (raríssimas) indicando limites de velocidade, mas são totalmente ignoradas; depois, praticamente não existe lombada. Farol (ou semáforo ou sinal), só nos locais que se aproximam do centro ou cruzamento arterial em nível (não em todos os cruzamentos); faixas de pedestres até existem algumas (tem um modelo transversal, diferente das horizontais brasileiras), mas ninguém (ninguém mesmo!) obedece, e nem me refiro a parar pro velhinho atravessar (impensável aqui), me refiro ao básico como a parar no farol antes da faixa quando este se encontra vermelho. Não consegui informações sobre a proibição de beber e dirigir, porem, se houver, não é respeitada, principalmente por alguns brasileiros endinheirados que só vivem bêbados. No geral, os motoristas são mal educados, buzinam feito loucos, fecham uns aos outros e raramente dão passagem a quem quer entrar (com algumas exceções, claro). Não há montadoras de automóveis, são todos importados, a grande maioria usados do Japão e Coreia.


Vista interna de um micro ônibus de Santa Cruz de la Sierra




Comer fora: pelo que pude apurar, a gastronomia boliviana não é ruim, principalmente no que diz respeito as comidas mais típicas. Obviamente, se difere bastante da comida brasileira, pois tem uma herança indígena andina e tupi guarani, enquanto brasileira tem intensas influencias africanas. Os bolivianos tradicionais gostam muito de sopa, como a sopa de amendoim, Mani, acesse aqui a receita, ou o Chairo, uma sopa de legumes, temperos picantes e carne; falam, também, da sopa de pênis ou gônadas de boi, mas nunca vi. Tem a salteña, uma massa recheada com carne moída, cebola e temperos típicos que leva um sabor bem característico; o tempero original é adocicado e picante, porém, há selteñas menos picantes e não agridoces. Pra beber, tem a Chicha; a Chicha é uma bebida tradicionalíssima na Bolívia e Peru (descendência andina) cujo preparo tem um peculiar modo; o milho é mastigado e cuspido em água quente, onde será fermentado e depois coado; é normalmente mastigado, o milho, por moçoilas, devido a uma maior quantidade de amilase (enzima salivar - e pancreática- que degrada as moléculas de carboidratos e possibilita a fermentação). Esta forma de preparo rudimentar ainda existe, principalmente em aldeias, tribos e nos interiores do país e, dizem, numa maneira mais rara, nas grandes cidades, porém, pode-se comprar e beber uma "boa" chicha em mini-shoppings ou lanchonetes nos moldes industrializados; deve até vender em mercados locais para preparo em casa. Além da Chicha, tem o Mocochinche, bebida boa feita com frutas secas, o mais comum é o pêssego e muito, mas muitoooo gelo, porém, tem um probleminha, principalmente para brasileirinhos meio nojentinhos: a bebida é comumente vendida na rua por "cholas", cujos hábitos higiênicos não condizem com os meus; todavia, caso queira beber um mocochinhe frío, em lanchonetes e mini-shoppings você encontra com facilidade; aliás, nesses locais você encontra muito (muito mesmooo) fast-food, comida mexicana rápida, muito, mas muitooo mesmooo frango frito (eles realmente adoram o tal pollo) e coisas do tipo. Em Santa Cruz há muita cafeteria, muitas sorveterias, tem Burger King, Subway (não tem McDonalds), churrascarias e etc e tal, mas, num outro momento, postarei sobre a culinária e gastronomia boliviana mais detalhadamente e hei de provar cada uma delas e deixar minhas impressões, por ora, sigo com o "que há" na cidade.


Vendedora de mocochinche



Como sou um alcoólatra assumido (zueira), não poderia deixar de falar disso, que para mim é fundamental. Beber na Bolívia é tão fácil como em qualquer parte do mundo, basta ter grana e não precisa ser muita. Em Santa Cruz de la Sierra você encontra a maioria das bebidas que encontra em qualquer cidade grande do mundo, desde cervejas importadas da Alemanha até as locais, mais modestas; prepararei um post especial sobre tais iguarias fundamentais para qualquer ser vivo normal (ou nem tanto, como no meu caso). Não é incomum encontrar bares, botecos, baladas (balada, para quem não está habituado com o linguajar, são as boates ou casas noturnas onde se bebe e se dança ao pisca-pisca da batida eletrônica - ou não); tem alguns shows de bandas regionais e, uma vez ou outra no ano, um grande show internacional (David Guetta, Scorpions ou Alejandro Sanz - eclético!); nesses shows a boliviana pira.

Tecate, cerveja nacional boliviana



Por falar em música, de uma maneira surpreendente, ao menos para mim, eles curtem muito a música brasileira. É comum pegar um taxi e ouvir Michél Teló (é, meus caros, até aqui!), Restart, Calipso (essa, os bolivianos amam e somente o próximo consegue ser comparado a esta banda), Bruno e Marrone (eles amam simplesmente) e coisas como Raça Negra (anh??? como assim?), Leandro e Leonardo (uma amiga me contou que quando disse a uma boliviana que o Leandro já morreu, ela quase chora), Roberto Carlos, Xuxa (é regra tocar Xuxa em qualquer aniversário, de adulto ou criança - é sempre Ilariê ou outras do tipo), enfim, curtem muito música brasileira, mas é uma pena que é sempre o pior ou então aquelas que, de tão antigas, nem lembramos mais. No mais, adoram kuduro (afff) e Cumbia (foto linda abaixo) que são os ritmos preferidos dos mais jovens.


Banda Flamencos, são considerados os reis da Cumbia boliviana. Lembra o Restart, só que mais velhos, mais bonitos e estilosos, rs




Culturalmente, Santa Cruz é rica. Na verdade, toda a Bolívia preserva bastante de sua cultura e raiz, como os penteados, as roupas, o estilo andino de ser e, apesar de haver um certo "americanismo" em algumas situações, no geral, são bem eles mesmo, autênticos nativos. Há alguns teatros (bem baratos), casas de shows e há uma grande musicalidade no centro, principalmente nos sábados a noite. No centro, aliás, há uma bela praça (24 de Septiembre, foto mais acima) belíssima com uma linda catedral católica; ali por perto estão a sede do governo do Estado de Santa Cruz, consulado argentino, e outras casas oficiais.

O que mais tem de ruim em Santa Crus de la Sierra é o serviço público, que é muito mau. A saúde é precária, a polícia mal preparada e corrupta, a educação é mediana, mas falarei disso, especificamente num outro momento.

Os custos de vida, num primeiro momento, parece baixo, você compra produtos americanos e europeus como perfumarias, roupas e calçados por bons preços e livre de impostos, mas vivendo aqui fui percebendo que o custo de vida geral é alto, principalmente para o boliviano médio que, diferentemente da brasileirada que vive aqui, não tem o real como moeda base; e por falar em moeda, aqui se aceita o Peso Boliviano, como já disse noutro post e o dólar americano, o real, só negociando com o vendedor, entretanto, no centro, está cheio de casas de câmbio.  

Fui tendo boas impressões da cidade, apagando alguns estigmas, adquirindo outros, me adaptando a padrões diferentes dos meus e levando a vida como um bolivicong que brasileiro que veio fazer medicina na Bolívia.



Quer ouvir Cumbia? 
Conheça melhor a cidade de santa Cruz de la Sierra: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Cruz_de_la_Sierra


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