segunda-feira, 18 de maio de 2015

Burocracia no sistema de saúde - Diário de um interno

Uma coisa que notei no sistema de saúde boliviano é a burocracia. Muita burocracia. No internato, venho notando as dificuldades pelas quais os profissionais de saúde passam sistematicamente dentro de tal sistema. Vale lembrar que a saúde pública boliviana não é universal (só engloba crianças de zero a 5 anos, gestantes e puerpério), desta forma, as pessoas que não se encaixam nesta classificação, são obrigadas a pagar; a saúde aqui também não é integral, mesmo àqueles cobertos pelo SUMI (Salud Universal Materno Infantil), onde muitas vezes são obrigados a pagar por exames mais complexos, medicamentos ou procedimentos que não estão na lista do governo, ou seja, não cobrem tudo mesmo às crianças e gestantes. Desta forma, há uma burocracia enorme no atendimento.

Faço internato num hospital de terceiro nível (como se fosse um Hospital das Clínicas da Bolívia) e noto as diferenças enormes com o sistema com o qual estou acostumado, o do Brasil. Tem o lado bom e o lado ruim.

Vejamos como funciona:

O médico (onde estou, normalmente, um residente) faz as prescrições no prontuário, o interno verifica toda a prescrição e copia para uma receita em três vias tal prescrição, essa receita segue para ser carimbada pelo médico responsável (especialista de plantão, e temos de acha-lo) e pelo próprio residente, além da assinatura do interno que copiou a receita. Seguimos com essa mesma receita até a farmácia onde um farmacêutico checa toda a receita em busca de qualquer mínimo erro que seja e para, somente então, liberar os medicamentos. Detalhe: temos que colocar na receita as seringas que serão necessárias para administrar o fármaco, a água de diluição e qualquer outra coisa que for necessário naquela prescrição. Isso foi somente um exemplo. A burocracia segue em quase tudo o que é feito.

A questão é que, por ser a saúde aqui pouco abrangente, se faz necessário rígido controle para evitar fraudes, como a prescrição para um maior de 5 anos usando os dados de um garoto menor para sair gratuito. O grande problema nisso é que perde-se muito tempo escrevendo, checando, reescrevendo, rechecando e a assistência fica um pouco obscurecida.

Por outro lado, no Brasil há enorme desperdício. Trabalhei anos em serviços públicos e é bastante comum que funcionários levem remédios do hospital para casa, para um amigo, para a mãe... são poucos cuidadosos na administração do fármaco, pois no mínimo erro pode jogar fora e usar outro quando quiser enquanto, aqui, os medicamentos não ficam ao alcance das mãos e são bem controlados, ao menos os cedidos pelo governo, já que em farmácias você consegue comprar até propofol sem receita.


O ruim, para nós internos, é que ficamos mais preocupados em nos adaptar e encaixar nessa caótica rotina burocrática (para não cometer erros e ser castigado ou pagar com o próprio bolso), que esquecemos de aprender a parte médica da situação.

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