Eu
sempre ouvia dos veteranos que já tinham começado o internato que, é nessa
parte da graduação em medicina, que realmente aprendemos alguma coisa. Eu
sempre ficava meio na “segunda” questionando se realmente aprendiam alguma
coisa. Mas agora, depois de quase seis meses de interno, eu descobri que
realmente aprendemos, e não é pouco.
Abaixo,
listo o que venho aprendendo no internato rotatório.
1)
Pilotar maca. Aprendi que levar uma maca
pelos corredores desnivelados dos hospitais é uma arte para poucos. E tem que
ser rápido.
2)
Comer em dois minutos.
Nesta rotação, de
obstetrícia, nos dão 25 minutos para refeição. Levo 5 minutos para recolher
talheres na mochila (que trago de casa) e então chegar ao refeitório, mais cinco na fila e como em 5. Ai quando retorno
levo uma bronca do residente que não sabe fazer contas... e isso me leva a um
outro aprendizado.
3)
Engolir sapos.
Todo mundo quer mandar no
pobre do interno e os residentes (malditos, rs) creem que somos bebês. Mesmo
que você coma em 15 minutos, ao invés dos 25 estipulados, ainda dizem que
demorou. A mulher da limpeza passa o pano em cima de seus pés, as enfermeiras
(aqui são chamadas de “licenciadas” ou, simplesmente, “licen”. Malditas!) nos
tratam como se devemos favores a elas. Não fazem porra nenhuma. Até o guardinha
acha que você é um paspalho.
4)
Levar castigo.
Essa é a pior. Aqui na
Bolívia eles dão castigo se você fizer alguma coisa errada, tipo, escrever alguma coisa
equivocada ou olhar pra cara deles. Os castigos variam, mas como exemplo é: deixar de dormir no seu
horário de descanso e ficar acordado 36 horas, não ir para casa depois de 36
horas, perder o domingo que estaria de folga e assim por diante. Me sinto uma criança de 5 anos.
5)
Escrever na velocidade da luz.
6)
Ser invisível.
Você entra na sala dos
médicos (os deuses especialistas) e nenhum olha na sua cara. Tem um monte de
folhas e receitas para assinar, e te ignoram. Continuam conversando sobre o Evo
Morales como se você não existisse.
7)
Comer comidas estranhas.
Aqui, depois do
internato, já provei cada coisa... ou é isso ou ficar com fome.
8)
Ser ninja.
Sim, ser ninja pra fugir e
dormir em casa, sair mais cedo sem ser visto, inventar sinais vitais que dão
certo com os do paciente (quando algum residente fdp vai checar se você tomou
mesmo), teclar no zap mesmo sendo proibido, ir para o quarto de interno em
horários não permitidos, se tornar surdo quando saem gritando seu nome pelo
corredor, tomar banho sem sabonete quando esquece o seu (e sem toalha), dividir
a cama com mais dois internos que esqueceram o sabonete (ou não tomaram banho)
e depois ainda dar risada de tudo isso.
É,
de fato, um grande aprendizado.
E
tem a medicina também...