sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Coisas que realmente aprendemos no internato

Eu sempre ouvia dos veteranos que já tinham começado o internato que, é nessa parte da graduação em medicina, que realmente aprendemos alguma coisa. Eu sempre ficava meio na “segunda” questionando se realmente aprendiam alguma coisa. Mas agora, depois de quase seis meses de interno, eu descobri que realmente aprendemos, e não é pouco.

Abaixo, listo o que venho aprendendo no internato rotatório.

   1)   Pilotar maca. Aprendi que levar uma maca pelos corredores desnivelados dos hospitais é uma arte para poucos. E tem que ser rápido.

    2)   Comer em dois minutos. 
   

   Nesta rotação, de obstetrícia, nos dão 25 minutos para refeição. Levo 5 minutos para recolher talheres na mochila (que trago de casa) e então chegar ao refeitório, mais  cinco na fila e como em 5. Ai quando retorno levo uma bronca do residente que não sabe fazer contas... e isso me leva a um outro aprendizado.

    3)   Engolir sapos. 

  


   Todo mundo quer mandar no pobre do interno e os residentes (malditos, rs) creem que somos bebês. Mesmo que você coma em 15 minutos, ao invés dos 25 estipulados, ainda dizem que demorou. A mulher da limpeza passa o pano em cima de seus pés, as enfermeiras (aqui são chamadas de “licenciadas” ou, simplesmente, “licen”. Malditas!) nos tratam como se devemos favores a elas. Não fazem porra nenhuma. Até o guardinha acha que você é um paspalho.

    4)   Levar castigo. 



   Essa é a pior. Aqui na Bolívia eles dão castigo se você fizer alguma coisa errada, tipo,  escrever alguma coisa equivocada ou olhar pra cara deles. Os castigos variam, mas como exemplo é: deixar de dormir no seu horário de descanso e ficar acordado 36 horas, não ir para casa depois de 36 horas, perder o domingo que estaria de folga e assim por diante. Me sinto uma criança de 5 anos.

   5)   Escrever na velocidade da luz.

   6)   Ser invisível



   Você entra na sala dos médicos (os deuses especialistas) e nenhum olha na sua cara. Tem um monte de folhas e receitas para assinar, e te ignoram. Continuam conversando sobre o Evo Morales como se você não existisse.

   7)   Comer comidas estranhas. 


      Aqui, depois do internato, já provei cada coisa... ou é isso ou ficar com fome.

    8)   Ser ninja. 


   Sim, ser ninja pra fugir e dormir em casa, sair mais cedo sem ser visto, inventar sinais vitais que dão certo com os do paciente (quando algum residente fdp vai checar se você tomou mesmo), teclar no zap mesmo sendo proibido, ir para o quarto de interno em horários não permitidos, se tornar surdo quando saem gritando seu nome pelo corredor, tomar banho sem sabonete quando esquece o seu (e sem toalha), dividir a cama com mais dois internos que esqueceram o sabonete (ou não tomaram banho) e depois ainda dar risada de tudo isso.

É, de fato, um grande aprendizado.


E tem a medicina também... 

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