sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Brasileiros "fazendo" medicina na Bolívia - parte 2



Para quem não leu ainda e gostaria de ler, aqui tem a parte 1 de um post que fiz acerca da brasileirada que faz medicina aqui na Bolívia.

Como tinha prometido, falarei um pouquinho de como é o ensino por aqui (de acordo com minhas opiniões, claro). 

Já faz um belo tempo que estou na Bolívia; tempo suficiente para ter uma ideia bem formada a respeito de muita coisa que rola por aqui. E, quando se fala de do "perfil" do estudante de medicina de bolis, a tarefa não é muito difícil.

Me lembro de quando cheguei por aqui e quando fui às primeiras aulas. Entrei numa turma já formada e, aos poucos, fui sacando como eram as coisas por ali. Fui percebendo que haviam uma discrepância enorme, gigantesca, quase infinita entre um estudante e outro: Não, não estou falando da cultura, da cor da pele, da altura, da voz, do sotaque ou qualquer coisa do tipo; falo do quesito "estudo", mais propriamente da capacidade de estudar, de aprender e se formar médico.



Reina a Ignorância


E depois de tanto tempo, hoje sinto nojo de alguns tipos de estudantes brasileiros que têm por aqui. São pessoas totalmente sem envolvimento com aquilo que é a medicina, que não tem a menor ideia do que é ser um médico (desde de as responsabilidades profissionais e legais até a responsabilidade social). Muitos acreditam que basta sentar na porra de uma cadeira num consultório e "escrever" medicações pra pessoas com "viroses" e que "a tarefa médica é a coisa mais simples do mundo". Cansei de ouvir histórias fantásticas de pessoas que só vieram para cá em busca de ganhar dinheiro fácil, como se ser médico fosse um jogo onde você sempre ganha 20, 30 e até 40 mil reais ao mês (doce ilusão).

Vinha, a pouco, da faculdade para casa e, no micro ônibus, haviam mais outros estudantes (juro, pareciam alunos da sétima série, tamanha algazarra que faziam, com brincadeirinha idiotas e gritos desnecessários, somente para chamar atenção), estes estudantes são do décimo semestre (quase "médicos") e o assunto que prevalecia era, somo sempre, o dinheiro. Falavam como estavam próximos do "eldorado" da medicina e de como "teriam moral". Os bolivianos do micro só olhavam com cara de reprovação enquanto eu tinha vontade de descer e ir embora a pé. Dá vergonha!

Muitos brasileiros aqui nem sabem ao menos falar. E, pior, creem que falar como o Tarzan é coisa normal. Assassinam a língua portuguesa falando coisas como "rezistro" (registro) ou intindi (entendi); sem contar com a escrita que chega a doer, de tão mal feita. Dá ânsia de vômito quando eu vejo algumas pessoas escreverem nas redes sociais um português de dar pena. E, pior, se você fala, dizem que é normal escrever errado. Ta certo que também não sou muito bom em escrever, mas, sei lá... tem coisas que são bem básicas e uma coisa é se distrair, cometer erro de digitação ou estar com pressa, outra é ser burro. É uma pena.

Mas nem somente de estudantes brasileiros é feio o ensino da medicina da Bolívia. É preciso falar de estrutura.

Nos grandes centros, como aqui em Santa Cruzes ainda existe, mesmo que em situação um tanto defasada, alguma estrutura; principalmente para classes teóricas. Deve-se dizer que tem muito professor que ama o que faz, que estão sempre se atualizando (meu professor de urologia é, segundo dizem, o melhor cirurgião urólogo de Santa Cruz, tive uma professora de bioquímica que me fez, finalmente, entender a bioquímica molecular e vi que nem é tão complicado e muitos outros ótimos, de tirar o chapéu); tem outros que não são bons e somente enrolam; alguns corruptos (que aceitam 100 dólares para aprovar alunos burros), outros preguiçosos... enfim, coisa que no Brasil também deve ter. Mas para o brasileiro que estuda no Brasil não há prova de revalidação e não canso de dizer: muitos dos Brasileiros, que aqui estão, jamais serão médicos. Jamais.


As universidades pagam muito pouco aos professores (cerca de 400 reais por disciplina - ao mês). Um absurdo! É o que ganha alguns professores no Brasil em 4 horas.


Mas o grande problema mesmo são as aulas práticas. Em Santa Cruz tem, até onde pude me informar, quatro hospitais-escolas e seis faculdades de medicina (lembrando que, em uma delas, tem mais de cinco mil alunos deste curso.... credo!!!). Não há espaço para todos, definitivamente... sobram apenas os rincões sem estrutura onde alguns vão trabalhar de graça (depois de formado, é preciso passar seis meses no interior da Bolívia trabalhando de graça, para o governo) e, em alguns casos, não aprende nada de verdade.

Ainda há esperanças

Por fim, na minha opinião, o que estraga o ensino da medicina na Bolívia é a quantidade de brasileiro sem noção que atrasam os andamentos das aulas, alguns professores desatualizados e corruptos, e a superlotação nas práticas; porém, tem muito brasileiro que dá show em conhecimento, postura e ética, mas, infelizmente, é a minoria. E, claro, tem muitos, muitos mesmo, professores que são ótimos e que vale cada segundo da aula.





Depois volto a falar do assunto novamente.

Porque vim fazer medicina na Bolívia



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