sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Brasileiros na Bolívia "fazendo" medicina - parte 1



A cada inicio e meio de ano, chegam à Bolívia, para estudar, umas três mil pessoas (dados informais tirados de minha cabeça, porém, possivelmente é mais). Não acredita? Vamos fazer uns cálculos: na Udabol, maior universidade de Santa Cruzes, somente para o primeiro semestre, abriram mais ou menos 40 turmas: Sim, meus caros, somente para UMA universidade, se matricularam somente no primeiro semestre, cerca de duas mil pessoas; isso sem contar a enormidade de pessoas que entram no terceiro, quarto ou quinto semestre e que não entraram nesses cálculos (enfermeiros, fisioterapeutas e etc, que não entram no primeiro semestre). Se levarmos em consideração que há mais quatro universidades e que, para cada dez brasileiros nessas universidades, apenas um ou dois é boliviano, chegamos a conclusão que tem bolivicong demais por aqui.

Quando chegamos aqui, estamos com aquela mentalidade da "medicina fantástica e quase sagrada", mas logo nos primeiros dias esse encanto se vai e percebemos que somos somente mais um rosto no meio da multidão. Esta certo que alguns se sentem em Harvard e pousam em fotos tiradas em laboratório de anatomia ao lado de cadáver (nada mais piegas e antiético) ou em práticas hospitalares e se sentem verdadeiros House's

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É realmente muita gente. Tem tanta gente que é quase impossível você ir aos lugares mais frequentados da cidade, como ao cristo redentor (uma rua bem badalada), aos restaurantes e lanchonetes mais populares, às baladas, a um supermercado, a uma das tantas feiras, sem se deparar com vários bolivicong (bolivicong, para que não sabe, é o brasileiro que faz medicina na Bolívia. Pode ser chamado de "unibolis, também). A cidade está tomada.

Outro dia estávamos comprando perfumes para revender no Brasil (dinheirinho extra) e a logista estava falando em português conosco; conhecia até nossos gostos. Você vê, nas ruas, banner com propaganda de produtos brasileiros (em português, claro). Tem a farmácia Brasil, a livraria Brasil, entrega de água, gás, comida, tudo com atendimento em português e, em alguns casos, os donos são brasileiros; aliás, há um empreendedorismo forte por partes dos brasileiros, que abrem lojas, restaurantes, fazem serviços, prestam assessoria, fazem programas (sim, até aqui tem brasileira puta-profissa).

Deve-se dizer que a enorme maioria destes bolivicongs são do norte, centro-oeste ou nordeste do país; diria que o Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Maranhão são os campeões.

Beleza. Tem muito brasileiro, muita gente fazendo medicina, ganhando a vida, se virando; mas ai me vem uma pergunta: onde estão esses "médicos"? Porque não tem médico nesses estados citados? Sim, porque são os campeões na defasagem no que tange o índice médico/ habitante; o MA, p. ex., é o pior do Brasil, com uma relação médico/ hab. de 1 para 1.638. É muito pouco para tanto maranhense que tem  en Bolis. E naquele meu cálculo, nem inclui as outras cidades bolivianas como La Paz ou os Argentinicongs. Só na minha sala tem uns 7 maranhenses. E a mesma teoria se aplica a estados como o AM, PA RO ou RR.

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Revalidação

A questão, meus caros, é que a maioria dos bolivicongs jamais se tornará um médico. Muitos desistem, muitos não conseguem se formar (por burrice ou falta de aplicação aos estudos e, principalmente, a união entre a burrice e a falta de aplicação), outros até se formam, mas não conseguem revalidar o diploma (processo que não é exclusivo da medicina e vale para qualquer profissão), e certamente nunca conseguirão. Amém!


Outros viram criminosos e vão trabalhar com registro falso e com aval de prefeito vagabundo.

Ai tem gente que faz a seguinte pergunta: poxa vida, com tamanha falta de médico, porque não liberam esses "dotores" para "dotorá" nesses lugares tão carentes de médicos?! A resposta é simples: porque, para atuar no Brasil, você precisa provar que aprendeu a ser médico e, para tanto, é aplicado o exame de revalidação; é a única forma que o governo tem de fiscalizar a qualidade dos profissionais que vêm de fora; no mais, há um controle por parte do MEC para fiscalizar a qualidade das universidades brasileiras que, se não são tão boas (se) é porque esta fiscalização precisa melhorar e não que devemos abrir as portas do eldorado pra bolivicong despreparado, desapegado, burro, sem noção, malandro, corrupto e sem o menor perfil para ser médico e atuar no Brasil; ou seja, o argumentozinho de que "no Brasil se formam muitos médicos ruins" (e se formam mesmo) não é válido pra justificar a entrada de gente que não presta.

E em breve a festa da "compra de CRM", como dizem (alguns tontos nem sabem que o CRM não tem nada a ver com a história e, sim o MEC), vai acabar. 

Logo o Revalida será a única forma de revalidar. Torço para que isso ocorra logo. LEIA AQUI,  sobre o revalida, está em PDF


Eu estou aqui no mesmo barco, não sou aluno perfeito, nem um exemplo pra ninguém, mas vim preparado e sabendo do que devo enfrentar (e enfrentarei e vencerei!); não vim iludido esperando moleza; vim fazer medicina! Vim me tornar médico. Se você está lendo este texto do Brasil pensando em vir pra cá só pra fugir do vestibular e acha que sairá médico sem ralar, lamento em dizer que está no site errado (tem muita gente por ai, na internet, plantando ilusões nas cabeças de desinformados) se está en Bolis e discorda, e conhecendo o perfil de alguns, sei que discordarão, paciência.

O fato é que, a cada processo de revalidação, menos de cem pessoas conseguem revalidar; porque será? Já sei, vão dizer que a prova é difícil e segregativa. E onde já se viu prova para médico ser fácil?! Ser médico é pauleira, mesmo! Quer moleza? (ainda mais do que a que já temos aqui) vai sentar num pudim!

De qualquer forma, há muito bolivicong envolvido com a medicina; gente que estuda, que aprende, que se esforça e que, tenho certeza, serão bons médicos e é dessa gente que o Brasil precisa; estudantes e futuros profissionais genuínos. É para isso que serve a revalidação de diploma de médico, para valorizar o bom profissional, aquele que se dedicou e se aplicou, e evitar colocar as tranqueiras no mercado de trabalho e lhes dar licença pra matar.




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Em breve falarei um pouquinho sobre a qualidade do ensino daqui e porque não o acho tão ruim como dizem e, sim, creio que o que estraga o ensino de cá são alguns brasileiros vagabundos.

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