sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Perolas dos estudantes de medicina na Bolívia


Coca cuela, pescueço, rato, miesmo. São muitas as situações.

Durante todos estes anos, aqui em Santa Cruz de la Sierra, vi muita coisa engraçada (se não, trágica) vindas de alunos de medicina; desde erros bizarros de português até comportamentos atípicos e comentários sem sentido algum. Poderia listar uma infinidade de situações, mas vou me reservar a postar somente algumas que considero mais escabrosas.

Y el mio es miesmo muy fueda.


Próstata-glandinas.

Não existe próstata-glandinas. Isso foi um colega que inventou enquanto tentava colar de uma prova de outra pessoa. Ele estava agoniado querendo saber o que devia escrever numa prova em uma pergunta sobre mediadores da inflamação, cuja resposta era prostaglandinas; acontece que seu interlocutor, que também fazia a prova, lhe deu a resposta correta “prostaglandinas”, porém, o agoniado entendeu próstata-glandinas e colocou na prova.

Isqueminha (essa é boa, rs)

Essa é recente. Todos, que estudam em uma universidade, sabem que existem trilhões de esquemas para tudo. É gabarito de prova que vaza, é provas de semestres anteriores que alguém conseguiu e essas coisas acontecem aqui e em qualquer lugar, inclusive no Brasil. Bom, um dia chegava para uma prova de neurologia e neurocirurgia e fui conversar com um dos colegas enquanto o professor não chegava.  Depois de falarmos
Colla, na Bolívia, são as pessoas nascidas fora de Santa Cruz de la Sierra
normalmente são indígenas e são assim chamados pejorativamente.
Ai inventaram a coca colla, feito com folhas de coca (que faz a cocaína).
Esse ai comprei numa viagem que fiz, por terra, no interior da Bolívia. 
Tem gosto de guaraná e NÃO te deixa doidão.



algumas coisas, ele me fez a seguinte pergunta:

- Ow, você está sabendo se vai ter aquele esqueminha na prova?
- Não sei, cara, to por fora disso. – respondi.
- Eu ouvi o pessoal dizendo, ali - apontava a um grupo de alunos que conversavam -, desse negócio de esqueminha que vai cair. – disse ele.
Nessa hora me passou um milhão de coisas pela cabeça: “seria alguma tabela esquemática? Seria a escala de Glasgow? Seria mais alguma prova que vazou? Será mais algum esquema de gabarito? ou será algo que não estudei?” Bom, ele nem me deixou concluir meus pensamentos e continuou:
- É isqueminha, pô, tu não veio na aula dele?! Ele deu isso; isqueminha...
Nessa hora minha ficha caiu. Claro que eu ri. Ele queria dizer Isquemia; neste caso, referente a doenças isquêmicas do encéfalo. Ri pra caralho disso. Ele não entendeu porque eu ri.

Tem muita gente inteligente e bem preparada na Bolis,
mas ao mesmo tempo tem alguns que
não tem a a menor condição, é sério.

Glicose X glucosa

Outro dia, um camarada (o mesmo da isqueminha, rs) debateu comigo alguns minutos, pois pensava que glucosa era uma coisa e glicose era outra. Lembrando que glucosa é glicose em espanhol. Muitos não entendem que neumonia é pneumonia, que neumologia é pneumologia e assim por diante. Simplesmente pensam que são coisas diferentes. Isso no oitavo semestre ou, alguns, até depois de se formar. É sério!

Rato

Essa se passou comigo e foi exatamente no primeiro dia que sai sozinho (leia, aqui, minha história na Bolívia). Ia ao Banco do Brasil num táxi (ainda não sabia andar de micro) e não conhecia nada da língua espanhola. Quando chegou num determinado ponto, o taxista diminui a velocidade e me fala algo que não entendi, finalizando a frase com “un rato”. Pedi que ele repetisse, e ele já com o carro parado, me repete: “um rato, um ratito” e eu já meio desesperado olhando para baixo do banco do carro procurando o rato que ali estava enquanto o motorista desce e vai a um camelo comprar cigarro. Mais tarde descobri que “un rato” significa “só um momento/instante”. De qualquer forma, não estranharia encontrar um rato (aqui chamado de raton ou rata) nesses táxis enferrujados.

Eu jurava que tinha um rato naquele taxi!

Leia também:

Correr

Estava no micro indo a faculdade quando vi um colega correndo para não perdê-lo. Gritei a ele: “Corre, corre! Se você não correr, vai perder o micro” . Umas meninas que estavam no micro ônibus ficaram rindo olhando para mim. Mais tarde, descobri que “coger”, que pronuncia “correr”, em espanhol, é o mesmo que "pegar" ou até “foder” em português.

Menos eu, eu faço isso porque sou gentil.

Cancelar

Quando fui pagar minha primeira mensalidade, me dirigi à caixa da faculdade e, sem saber quase nada de espanhol, disse que queria pagar. “¿Cancelar?” Perguntou ela e eu respondi que não, claro, afinal, queria pagar. Ela me olhou estranho e perguntou novamente “¿quieres cancelar?” E eu, desesperado, respondendo que não, que só queria pagar. Ela, resignada, me entendeu e simplesmente estendeu a mão para pegar o dinheiro. Mais tarde descobri que “cancelar” é o mesmo que pagar alguma conta e entendi os veteranos rindo na fila.

Além desses, existem muitas outras pérolas bastante comuns, principalmente relacionadas a terminologias médicas.

Outra hora eu volto para contar mais.


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