quarta-feira, 19 de março de 2014

Análise do Revalida de 2013

Antes de qualquer outra colocação, o principal objetivo dessa postagem é que ela me servirá como uma espécie de bancos de dados estatísticos sobre a prova, para quando eu for prestar o exame de revalidação. De fato, me é uma fonte de estudos. Dito isso, agora vamos ao que você encontrará nessa postagem. 

Vamos lá. Primeiro, o que é o Revalida? 

Para começar, vou explicar novamente o que é o Revalida. Trata-se de um exame a nível nacional cujo único objetivo é a revalidação de diploma de médico expedido fora do Brasil.

Muitos se preguntam sobre os motivos da realização de um exame para “selecionar médicos”, sendo que, se a pessoa se formou e tem o diploma, significa que ela é um profissional habilitado. Acontece que, no Brasil, para ser médico, é preciso ter o diploma de medicina (e, quem se forma fora do país, tem) e reconhecido pelo MEC (quem se forma fora não tem esse reconhecimento). O MEC (Ministério da Educação – e Cultura) é o órgão brasileiro que, dentre outras coisas, é responsável pela implementação e fiscalização, a nível nacional, das universidades e se estas estão cumprindo com suas obrigações. O MEC só pode fazer isso em território nacional.

E como isso funciona?

Se uma universidade brasileira não cumpre com suas funções, tem notas muito baixas ou não tem estrutura suficiente, por exemplo, o MEC pode suspender o curso ou diminuir o número de vagas para “garantir a qualidade” e, ainda que tudo isso seja meio utópico em nosso país, é assim que funciona. Já as universidades estrangeiras, mesmo tendo seus próprios órgãos fiscalizadores locais, não são submetidas ao controle brasileiro; e é aí onde entra o Revalida.

O Revalida é a única forma do governo brasileiro controlar e avaliar a qualidade de médicos formados em instituições estrangeiras.


O Revalida é a única forma que o governo brasileiro, através do MEC/INEP, tem para garantir alguma qualidade aos médicos provenientes de universidades de outros países. E não importa o país ou a universidade. Se se formou em Hopkins ou na Udabol, o processo é o mesmo. E se engana quem pensa que só se submete ao processo de revalidação os diplomas de médicos; qualquer diploma, de qualquer curso, precisa ser reconhecido pelo MEC, ou seja, revalidado; para nós, médico, ainda é mais fácil e menos burocrático, pois temos provas anuais e menos burocráticas. Basta pesquisar as dificuldades que um formado em direito ou engenharia têm para exercer suas profissões no Brasil.

Link  das provas abaixo.

  1) Uma avaliação básica da prova teórica – objetiva e discursiva/dissertativa. Ênfase nas dificuldades e nas questões mais, digamos assim, fáceis.

   2)   Análise qualitativa naquilo a que se propões a prova, ou seja, se a prova cumpre com a função de selecionar bons médicos para trabalhar no Brasil, se tem apenas objetivo reprovativo ou se está aberta a qualquer resultado. Tem pegadinhas? É, de fato, objetiva? Qual a abordagem objetiva das questões? O que é mais importante (eu) estudar?

   3)   Análise quantitativa: há tempo de realizar as questões? O que mais cai, clínica, pediatria, cirurgia ou GO?

    1.   Da Prova

O Revalida possui três fases: a) inscrição, 2) Provas escrita e 3) Prova de Habilidades Clínicas (prática). A Prova Escrita é divida em Discursiva e Objetiva. A Prova Objetiva consta de 110 questões objetivas das quatro especializações médicas básicas (Ped, GO, CM, CG), incluindo legislação, saúde da família, ética médica e medicina legal. Dentro deste critério programático, há, obviamente, questões acerca de reumatologia, infectologia ou otorrinolaringologia, p. ex., mas dentro de um contexto de CM (Clínica Médica), CG (Cirurgia Geral), Ped (Pediatria) ou GO (Ginecologia e Obstetrícia). A Prova Discursiva consta de 5 questões abertas onde deverá responder, às perguntas realizadas, discursivamente.

O tempo para a realização da prova objetiva é de cinco horas (das 8 às 13 horas) e da prova discursiva de três horas (das 15 às 18 horas) realizada no mesmo dia da prova objetiva. Maiores detalhes, leia o edital aqui (em .pdf).

    2.   Como Realizei a Prova

Dividi a prova objetiva em três partes, pois não pude me colocar à disposição de tal feito por cinco horas seguidas, além de achar desconfortável tal situação e, como o objetivo não era fazer uma simulação, a divisão por etapas não interferiu nos meus objetivos. Num quarto período, fiz a prova discursiva.

Inicialmente (as primeiras 5 questões) senti alguma dificuldade, pois não estava bem familiarizado com os temas e totalmente fora de ritmo de estudo, porém, aos poucos fui melhorando. Já no final, estava meio desgastado (isso porque nem fiz tudo de uma vez) e foi onde mais errei. Os momentos de maior acerto foram entre as questões 30 e 80.

Me dei mal na prova discursiva, mas não por desconhecimento, mas por má interpretação e falta de atenção. As perguntas até eram claras, mas eu respondi incompletamente algumas questões (falo disso mais abaixo).

    3.   Uma Breve Avaliação Subjetiva

Haviam questões realmente “dadas” que somente um aluno muito “desatento” erraria ou que simplesmente desconheceria o assunto por completo. Um exemplo é a questão 24 que trata do tromboembolismo pulmonar (TEP) dentro do contexto de viagem de longa distância (o cara fica bastante tempo sentado e faz TEP). Poxa vida, até quando estava no primeiro semestre sabia disso; quem assiste ao “Bem Estar”, da Globo ou ao Discovery Channel acertaria. Por outro lado, houve questões mais complicadas (ao menos para mim) como condutas proctológicas muito específicas frente a hemorragias anorretais.

Se quiseres passar no Revalida, estudais GO. Sem esse conhecimento é virtualmente impossível uma aprovação. Nas questões finais, prevaleceu a GO; GO e Ped, aliás. Pediatria, que é bem diferente da CM adulta (e isso todo mundo sabe, acredito) é outra área que muitos se esquecem de dar atenção e leva pau. Nesse meu teste, errei muitas questões de pediatria e as poucas que acertei, foi devido ao fato de conseguir associar às patologias do adulto. Ou seja, preciso melhorar, e muito, o conhecimento médico em GO e Ped (está certo que ainda nem estudei isso na faculdade – no próximo e último semestre, começo isso na faculdade).

Outra problemática foi, ao meu ver, abordagens equívocas de temas tranquilos como uma questão que trata do HPV (99). No enunciado, a menina tem 16 anos e a alternativa correta é “indicar vacinação contra o HPV”, mas não seria somente a meninas entre 11 e 13 anos?!

No mais, achei a prova bem tranquila. Não estava difícil como não achei difícil nenhuma prova do Revalida feita até hoje (exceto a primeira denominada “Projeto Piloto”). Falando de mim, ajuda ter trabalhado 10 anos no setor público brasileiro onde vivenciei diversas rotinas que hoje me servem para saber pensar e acertar algumas questões.

    4.   Avaliação Quantitativa

    4.1.             Prova Objetiva

Abaixo consta um resumo de tudo o que caiu na prova do Revalida 2013. Criei uma espécie de banco de dados contendo os principais assuntos abordados para ter uma boa noção daquilo que mais costumam pedir na prova para, como disse antes, poder me preparar melhor.


Clínica Médica
Cirurgia Trauma
Pediatria
GO
PSF
Medicina Legal
Outros
Nº questões
32
16
22
23
10
3
4
Infecto
5
2
3
2
5


Reumato
1

2
1



Gastro
8
5
6
1



Legislação

1

1
5
1

Ocupacional





1

PSQ
1

1
1
1


Condutas Parto
1
2

10
4
1
1

A conta da tabela não fecha, pois há questões que se encaixam em perfis diferentes de especialidades; é comum haver questão que está inserida na especialidade (como infectologia, p. ex.), e clínica médica, pediatria ou cirurgia. Casos de trabalho de parto inseridos no contexto de medicina legal ou bioestatística (morte materno fetal) e de PSF (Saúde da Família) na mesma questão. Outra situação, por exemplo, é de encontrar questão falando de gastrenterologia e infectologia ao mesmo tempo; e isso não aparece na tabela. As especialidades se misturam e se complementam, ou seja, a prova não divide claramente as especialidades, pois trata-se de uma prova de conhecimentos gerais acerca da medicina dirigidos, obviamente, a médicos.

Analisando objetivamente a prova, percebe-se claramente que ela é voltada para médicos que conhecem bem a estrutura e funcionamento do SUS; é necessário, antes de qualquer coisa, conhecer os protocolos do Ministério da Saúde Brasileiro, como o de doenças crônicas, de doenças infecciosas e de legislação. Os conceitos básicos do SUS devem ser dominados, como a ideia básica da descentralização, da referência e contra referência, da hierarquia do atendimento e direito ao acesso aos serviços de saúde universal (que é mais complexo do que simples conceitos).

No que diz respeito ao tempo para realização da prova, na minha opinião, cinco horas está de bom tamanho.

    4.2.             Prova Discursiva

A prova discursiva consta de cinco questões aonde você deverá discorrer acerca do caso clínico dado. Normalmente pedem o diagnóstico, exames subsidiários, complicações e tratamentos.

A primeira questão falava de Diabete Mellitus. Pergunta fácil, porém, se não souber interpretar ionograma, ânion gap, gasometria e bioquímico vai levar pau; precisa conhecer a insulina e como prescreve-la. Adorei a questão; CM pura do jeito que eu gosto. A segunda questão tratava de pré-eclâmpsia; relativamente fácil, se conhece os critérios para Sindrome de Hellp. A terceira tratou de um tema atípico para provas: incompatibilidade ABO com doença hemolítica; pedia para explicar fisiologicamente a doença além de determinar tratamento e complicações possíveis. A quarta questão da condução de casos de saúde pública das doenças negligenciadas; foi uma questão de geografia. A última questão tratou de mordedura de cão, como conduzir o caso e as profilaxias. Manjado.

    5.   Conclusão

Prova fácil que qualquer médico deve dominar para trabalhar no Brasil. O índice de reprovação nesta edição do Revalida (cerca de 1500 inscritos para cerca de 100 aprovados) não traduz a real dificuldade da prova. Traduz o despreparo de boa parte dos que fizeram, seja por um ensino de pouca qualidade ou desinteresse/alienação dos revalidandos. Uso o termo alienação porque tem muitos alunos hoje, na Bolívia (maioria dos candidatos), simplesmente desconhecem os caminhos corretos para se formarem médicos no Brasil (ou seja, passar na prova). Se apegam demais ao que é dado na faculdade, passam a noite estudando para tópicos que em grande parte não interessam para o Revalida, leem tratados atrasados ou que simplesmente tratam de doenças com protocolos Europeus, Americanos e até mesmo da Bolívia ou Argentina e que é diferente do Brasil. Por exemplo, no Brasil, para tratar infecção urinária baixa bacteriana não complicada em paciente imunocompetente, usa-se, não havendo contraindicação, a nitrofurantoína. Aqui, se ensina como sendo o ciprofloxacino (na prática, no Brasil, se usa mesmo muito o cipro, mas no consenso, nos protocolos do MS, é a nitrofurantoína e é isso o que cai em prova); ou seja, não basta saber medicina, é preciso saber a medicina brasileira. Caiu uma questão dessa no Revalida 2012.

É preciso conhecer a epidemiologia brasileira, os protocolos brasileiros, as estatísticas brasileiras e a legislação brasileira; ah, e é preciso saber medicina também.

Lembrando que essa é somente a primeira fase; a segunda fase consta de prova de habilidades clínicas com simulações de atendimentos reais.

Links das provas:


4 comentários :

  1. Boa tarde! Parabéns pela publicação! Foi muito útil pra mim.. Qual o melhor curso preparatório para o revalida na sua opinião?

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    Respostas
    1. Brother, na minha opinião é o medcel ou medcurso. Esses te preparam além do necessário para o Revalida.

      Grande abraço.

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  2. Você estuda pelo MEDCEL OU MEDCURSO ?

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    Respostas
    1. Eu ja assisti a todos os videos do Medcel 2010 (o melhor de todos os tempos) e quase todos do Medcurso 2012. Na minha opinião, o Medcel é melhor. Acho ele mais complexo de entender, entretanto, de um conhecimento mais profundo dos temas. O Medcurso, a meu ver, é melhor para acompanhar quando estiver bem próximo de fazer a prova, pois ele é bem mais objetivo do que o Medcel.
      O Medcel 2010, intensivo e extensivo, é a coleção mais completa que tem. De la para cá pouca coisa mudou.

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