sábado, 9 de agosto de 2014

Fim de férias inverno de 2014

Este post faz parte de minha historia fazendo medicina na Bolívia. Se quer ler tudo desde de o inicio, clique aqui.

Eu nunca em minha vida duvidei de verdade de mim e da minha capacidade. Sempre me achei bastante forte para superar os diversos obstáculos que a vida sempre apresentou. E estou vivendo mais um desses momentos complicados da vida.

Vim com a doce ilusão de que iria trabalhar, ganhar uma grana para visitar a minha filha e até chegar com algo a mais na volta e poder fazer visto, pagar matéria, mas nada disso aconteceu. No início as férias foram realmente complicadas devido vários problemas em casa, com a família, com a frustração e decepção numa infinidade de situações diferentes; o fato de não poder ir ver minha filha me desolou, me tirou o foco e me vi totalmente sozinho nesses momentos; mas Deus sempre esteve comigo e mais tarde superei essas coisas e rapidamente me foquei ao que era mais importante: ser médico. Ser médico para mim, para minha mãe, meus irmãos e, principalmente, minha filha. E não há dor de distância que suporte a essa força. Só eu e meu coração é que sabemos como foram esses momentos e, por mais que eu fale, jamais conseguiria expressar isso.

Três dias antes da viagem.

Na próxima terça feira, dia 05/08/2014, estou saído de casa para mais uma enorme viagem. De Sampa para Brasília, de Brasília para Campo Grande, de Campo Grande até Corumbá e, de Corumbá até Santa Cruz de la Sierra; tudo isso de ônibus. Cansa somente de pensar, já que sei jamais poder me hospedar nos caros hotéis de Brasília e certamente, se possível, descansarei somente em Corumbá. Tudo isso porque necessito carimbar meus documentos no MEC e MRE para deixar tudo certinho na universidade. Sabe aquele gás que sentimos e aquela força enorme que vem na gente e nos faz ir onde pouquíssimos nesse mundo teriam coragem de ir?! E mesmo com o coração doendo de saudade de minha filha e de minha mãe que faz dois anos que não vejo, vou lá, com a cara e a coragem... vou correr atrás desde objetivo tão caro.

As vezes parecia que, de tanto acreditar em tudo o que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais; faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro.

Claro que no meio de tudo isso, vivi momentos incríveis que me fez sentir uma felicidade tão pura que havia muito tempo eu não sentia, mas isso também vai ficando para trás. Ainda fui a praia e me diverti pacas, isso a um dia de voltar para casa. Revi gente especialíssima que havia mais de 10 anos não via e foi, sem dúvida, um dos grandes momentos de minha estadia em SP nessas férias. ER, você estará pra sempre no meu coração, amiga.

Como se vê, são tantas promessas; tantas buscas, tanta correria, tantos objetivos e parece que venho vivendo apenas em prol do futuro.

Bom, está chegando a hora de voltar a Bolívia; minhas férias estão terminando e devo seguir esse caminho que escolhi e que talvez cresse não ser tão difícil como vem sendo. E dessa vez nem sei como vai ser; quando volto, por exemplo, é uma pergunta sem respostas. Só Deus sabe.

Peço a Deus que olhe por minha família, meus irmãos, minha velhinha mãe, minha filhotinha que está começando aprender a viver. Não deixe que nada de ruim os atinja e sempre esteja a seu lado.

É minha penúltima noite em SAMPA. Que dê tudo certo, que tudo aconteça. Que eu faça uma boa viagem, que... enfim. Força na peruca, Alair (mesmo eu sendo careca).

04/08/2014
Um dia antes de viajar

Aconteceu algo terrível em casa, mas por motivo de exposição, prefiro não relatar aqui. Isso simplesmente foi um dos maiores golpes que já tive diretamente a mim. Isso, somado o fato de não ter visto minha filhota, quebrou meu coração ao meio.

05/08/2014
Dia de partir

Como sempre, dia de intercorrência. Tive que correr atrás de um amigo para levar-me ao correio para buscar uma encomenda, em cima da hora (valeu Nei, você é o cara). Fiz minhas malinhas e parti. Despedidas, lagrimas, e o mais do mesmo. Peguei o bus no Tiete as 17h e cheguei a Brasília cerca de 10h da manhã. Fui correndo ao MEC e MRE carimbar os docs (2 coletivos, claro; descobri perguntando aos brasilienses como chegar até la e cheguei). Carimbei o que deu; eram muitos docs e muitos infelizmente não puderam carimbar, mesmo a atendente sendo gentil e ainda carimbou mais do que devia. Depois fui ao MEC e la foi rápido e simples. Carimbaram tudo.

Sai de la meio dia, com estomago nas costas. Sem janta, sem café da manhã, sem comer um grão sequer. Voltei para a rodoviária para poder comprar a passagem para Campo Grande (CG); comprei; conexão em Goiânia e, de la até CG. Detalhe, o bus atrasou e perdi a conexão. Fiquei em Goiânia das 9h até as 4h dormindo no chão. Sem dramas, já esperava por isso e essas coisas nem me abalam. Meu coração doía e meu corpo aguentava tudo. Minha filha, minha família, minha mãe... minha vida.

Cheguei a CG cerca de 2h, não tinha bus tão cedo para Corumbá (gdá). Mais espera na rodoviária. Nisso, conheci duas bolivicongs, uma caloura e outra de sétimo semestre. Ótimas pessoas. Dentro do bus, mais um bolivicong, esse calado. Mas me diverti muito (e como!) até Corumbá. Nem dormi.

Desembarco umas 2 da madrugada na já familiar rodoviária de Corumbá. Um “guia” com cara de pudim de pinga me leva até um hostel, o menino calado foi junto; me despedi das meninas e segui para o hostel.

O hostel estava sendo inaugurado aqueles dias e não tinha quase nada; fiquei num quarto com o menino calado (até agora não consigo lembrar seu nome) e, no mesmo quarto, duas gringas, uma alemã e outra cuja nacionalidade eu não desconfio. Ai ficou eu e a gringa conversando por cerca de 2h seguidas. Ri muito com ela, pois ela não sabia quase nada de português (ou espanhol) e seu inglês era pior que o meu. Eu falava palavras em espanhol, português e inglês e ela também, só que acrescentava coisas que suponho ser alemão. Foi a primeira vez que falei com um europeu; acho que estava com a mente tão a milhão que falaria em mandarim, se fosse o caso; só não queria sentir a dor de pensar. Depois disso dormi até nove horas; estava cansado, mas precisava levantar. Fui ao consulado boliviano carimbar os docs (que devem ser carimbados no MRE, MEC e consulado boliviano no Brasil, um saco). E para minha (não) surpresa, o cônsul estava viajando e só voltaria na terça ou mais provável na quarta. Isso ainda era sexta feira. Não podia esperar.

Tive que ir embora (para Santa Cruz) e, numa conversa com o dono do hostel, ele me explica que está começando, me pede para falar de seu local para
outros estudantes e dar uma propaganda. Eu disse que tinha um blog e vai rolar um negócio entre nós; vou promover seu hostel no meu blog e ganho hospedagens grátis. Ele, ainda, me levou de Corumbá, atravessou a fronteira e me deixou no terminal de bus em Puerto Quijarro, BO, por um preço camarada.


Sai sexta a noite de Puerto até Santa Cruz onde desembarquei quase as 6h da manhã. Ou seja, sai terça e cheguei sábado. Contudo, meu coração doía (dói) muito mais que meu corpo.

Fazer medicina fora é muito mais de buscar uma profissão; é um desafio de vida.

Abaixo, a musica que fez parte da trilha sonora desses momentos:






6 comentários :

  1. Alair, você vai VENCER! Eu não tenho dúvidas disso! Que história!!! Cada vez que leio seus posts, me sinto inspirada.
    Obrigada por partilhar sua experiência na internet...
    Amanhã (19) estou partindo pra Sta Cruz e espero ter a metade dessa força que você demonstra! Não sei se você se lembra, mas sou aquela moça que te perguntou sobre o Roacutan, lembra? Já tá tudo resolvido com meu médico e me desculpe pela demora em te responder, na verdade, na correria eu acabei me esquecendo de voltar aqui, rsrs! Mas, agradeço pela sua atenção em ter me respondido :)
    Deus te abençoe, espero sinceramente que você alcance os seus objetivos e que Deus lhe de forças a cada dia!!!!

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    1. Me lembro de você sim.

      Fico feliz que tenha conseguido resolver sua questão com o Roacutan e mais ainda por estar chegando a SCS. Te desejo toda a sorte do mundo por aqui e que as coisas se saiam muito bem para você, pois tem muita gente que não precisa passar os perrengues que ja andei passando e espero que seja uma dessas pessoas.. :)

      Agradeço pela força e pela leitura!

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  2. Caraca Eu to lendo seu blog desde manha , muito interessante , vi todas as dificuldades que vc passou e vir que nao e fácil , mas eu to em busca de medicina.
    Varias pessoa disse que nao e uma boa ideia fazer medicina ai , mas vou por a risco.
    Eu e um amigo do Maranho estamos querendo ir fazer medicina ai. Vamos passar por varias coisas mais isso eu to confiante que vai servi so pra nos ajuda . vc me espirou muito mesmo eu epero conseguir o objetivo de chega ai e me matricula e da início ao sonho .
    Passei seu blog pra meu amigo da uma olhada na sua história..
    Te desejo tudo de bom e que vc consiga tudo ..
    E eu vou começa a trinha minha estrada

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    1. Muita força, amigo. Que dê td certo pra vc. Grande abraço.

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  3. Alair impactante sua história, mas você já é um vencedor, parabéns que Deus continue ao seu lado. Gostaria de saber mais detalhes de por que não se formou com menos tempo se já era enfermeiro, gostaria de ter essas informações se não for pedir muito, pois sou enfermeira estou indo inicio do próximo ano com minha família literalmente esposo e filhos e o seu blog foi o que mais me deu detalhes de tudo que eu quero saber, se não quiser publicar me escreva no e-mail ficarei agradecida. Em SL 37 v4 diz: Confia no Senhor e ele concederá os desejos do teu coração.

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    Respostas
    1. Eu tive que parar um semestre, pois tive problemas financeiros (e investi erradamente o dinheiro em pessoas e situações erradas). Essa pausa me atrasou um semestre e terei de parar de novo agora (10 semestre) para rearranjar algumas coisas de documentação e, enfim, aqui as pessoas se formar muito rápido se se envolverem em cosas erradas.

      No mais, muito obrigado pela força. Pode até demorar mais do que pensei, mas nada vai me impedir de chegar la.. NADA.

      Abraço.

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